Sexta, 16 de Abril de 2010
No menor Estado da região Sul, Florianópolis faz a mágica da multiplicação dos destinos. Uma só cidade atrai quem quer praia ou paisagens rurais, ecoturismo ou baladas noturnas, surfe, cavalgadas ou esportes radicais. Suas paisagens exuberantes transformam-se em lugar tranquilo para famílias com crianças, romântico para casais em lua-de-mel. Tem hospedagens para qualquer faixa de renda: do resort paradisíaco à casa de pescador alugada por grupos de amigos que passam ali a melhor parte das férias.
Entre as capitais brasileiras, somente o Rio de Janeiro é páreo à altura de Florianópolis na diversidade das belezas naturais, no conjunto concentrado de montanhas, mar, lagoas, dunas, Mata Atlântica, restingas e manguezais. Não espanta que grande parte dos turistas, nacionais ou estrangeiros, seja reincidente: conhece e volta. Às vezes, volta para morar. Até porque, consideradas as 42 praias oficiais, urbanas ao norte e selvagens ao sul, a lista de atrações - culturais, gastronômicas etc. - é praticamente inesgotável.
Com 400 mil habitantes, a cidade começa no continente e toma a imensa Ilha de Santa Catarina, que tem cerca de 60 km de extensão. As distâncias são longas, portanto, de uma praia a outra, e os engarrafamentos são frequentes nos meses de verão. Canasvieiras, por exemplo, fica distante 27 km do centro, ao norte, enquanto do centro até Armação ou Matadeiro, na ponta sul, são 22 km. O transporte público é eficiente, as linhas são interligadas com passagem única, mas as baldeações em terminais tornam as viagens demoradas, de sul a norte, ou das extremidades até o centro.
O centro vale a visita: estão lá os centenários Mercado Público, a figueira gigante da Praça 15 e o sobrado, atualmente museu, onde viveu o pintor catarinense Victor Meirelles, autor da tela 'A Primeira Missa do Brasil', de 1861.
No miolo do mapa dos tesouros, a mancha azul que se estende para o norte é a Lagoa da Conceição, um pólo formidável de lazer: passeios de barco, esportes aquáticos, bares, restaurantes, danceterias, lojas, artesanato. Tempos atrás, na era anterior às câmaras digitais, filmes de 36 poses terminavam já na metade do caminho até a Costa da Lagoa, uma vila de arquitetura e hábitos alternativos, entre eles o de não dispor de transporte por terra.
Os morros cobertos de verde espesso deixam ver rochas, bromélias, cactos, reluzentes ipês amarelos, as ruelas chamadas servidões, os pequenos trapiches por onde os moradores embarcam e desembarcam. É desses lugares especiais no mundo que fazem os urbanoides repensarem toda a forma de vida em poucos segundos, tamanho o impacto visual.
A meca dos surfistas, a Joaquina, e a Praia Mole são vizinhas da Lagoa. Da Mole, com suas barracas descoladas e ondas altas, parte a trilha para a Galheta, a única praia de naturismo de Floripa. Naturismo relax, sem fiscais, sem o estresse da obrigação de ficar pelado.
Ao norte alinham-se os enclaves das águas mansas e mornas (ou menos frias): Jurerê, Canasvieiras, Ponta das Canas e Lagoinha, voltadas para o continente. São áreas com farta estrutura de hospedagem e de condomínios residenciais, e também recanto preferido dos turistas argentinos. "Canasvieiras fica nas Malvinas", como deixou claro o escritor Marcelo Mirisola. Na última década, a orla de Jurerê virou sinônimo de sofisticação crescente, com clubes para "day use", cardápios internacionais, trilha sonora caprichada, almofadões em tendas árabes e uma inebriante bebida típica: espumante. Espumante todos os dias, todas as horas, antes e depois do mergulho, do almoço, da ceia.
A cultura da colonização açoriana presta, assim, seus respeitos ao cotidiano francês, ao norte e ao sul. Ao sul está a praia do Campeche, cuja principal avenida, a Pequeno Príncipe, homenageia o escritor Antoine de Saint-Exupéry, que entre outras proezas fixou a rota aérea para a Patagônia. Em 1931, quando era chefe da empresa Aeropostale em Buenos Aires, Saint-Exupéry aterrissou no Campeche. O livro "O Pequeno Príncipe" inclusive levanta a bola dos moradores de Florianópolis: os acendedores de lampiões são os pescadores que, preocupados com aquela máquina voadora, faziam trilhas de luzes para que o aviador encontrasse a pista de pouso.
Já faz algumas décadas, portanto, que o sul da Ilha é um lugar especial, generoso com os forasteiros. É mais pacato, mais rústico, quase uma zona rural, com rebanhos pastando e tudo, com mar frio por perto. As melhores trilhas partem ou passam por Pântano do Sul, famosa pelo Bar do Arante, que coleciona milhares de bilhetinhos pendurados no teto e nas paredes. São impressões de várias épocas, de visitantes do Brasil e do mundo, sobre as paisagens, as comidas, as bebidas, os nativos do litoral, que está entre os privilegiados do país.
Tente reservar uma semana para Florianópolis, pelo menos, se está indo pela primeira vez. Só os passeios de barco para as fortalezas coloniais e para a Ilha do Campeche tomam um dia inteiro cada. Não esqueça que o Sul não é o Nordeste: faz calor só na primavera e no verão, a partir de setembro ou outubro, até março ou começo de abril. E volte: para o bistrô predileto, para a nova pista de dança, para aprender canoagem ou windsurfe na Lagoa. O mapa impresso de Florianópolis, com seus relevos, reentrâncias e enseadas, já é digno de pendurar na parede.
Fonte: UOL Viagem
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