Texto: Renata Pimentel (diário da Amazônia)
Eles abandonaram a família e seu país de origem, grande parte da cidade de Limbé, a segunda maior depois da capital Porto Príncipe, à procura de melhores perspectivas, espaço no mercado de trabalho e concretização de sonhos. Os 98 haitianos que atravessaram a fronteira da Bolívia e migraram para o Brasil enfrentaram três dias de viagem passando pelo Panamá, Equador, seguindo de ônibus pelo Peru, Bolívia até chegar ao Acre e posteriormente a Porto Velho. O destino escolhido é justificado pelos números que indicam que no ano passado o Brasil abriu mais de 2,5 milhões de postos de trabalho, grande parte em Rondônia com a construção de duas usinas hidrelétricas, a chegada de empreendimentos de grandes marcas nacionais e internacionais e o incremento da construção civil.
Oriundo de um povo que sobrevive e se recupera de tragédias de repercussão internacional, como o terremoto do ano passado e a epidemia de cólera, o grupo que veio aventurar a sorte em um País para eles desconhecido, em uma semana não apresentou qualquer enfermidade, apenas o desejo de conquistar um lugar ao sol e poder manter a família financeiramente. Além desses 98, as fronteiras do Amazonas e Acre estão cheias de migrantes, que estão barrados à espera da liberação do Conselho Nacional de Imigração para ingressar no Brasil, após a suspensão do protocolo de pedido de refúgio, documento que permite aos estrangeiros regularizar sua situação no País, podendo tirar a carteira de trabalho e identidade de estrangeiro.
A expectativa de conseguir emprego e ajudar sua esposa e o filho de apenas quatro anos, que ficaram no Haiti, foi o que motivou o jovem pintor e chofer, Paul Ghedlet, 22, a vir para Porto Velho. Ele é um dos poucos que já tiveram a porta do emprego aberta, como motorista. “Soube pela internet que aqui tinha emprego e vim junto com o grupo.
Lá é muito difícil conseguir emprego, aqui já consegui como chofer e por isso estou muito feliz”, disse sorrindo com a certeza de que agora terá condições de adquirir um telefone para obter notícias da família.
Empresários vão ao ginásio Conhecer perfil de haitianos
Para realizar o sonho dos migrantes, o governo do Estado, em parceria com a prefeitura, está oferecendo abrigo no ginásio Cláudio Coutinho, alimentação, exames e vacinas. Com a proposta de inseri-los no mercado de trabalho, as Secretarias de Assistência Social do Estado (Seas) e município (Semas) e o Sistema Nacional de Emprego (Sine) fizeram cadastro para identificar a habilidade de cada um e indicá-los para as vagas. A maioria do grupo é pedreiro, ajudante de obras, pintor, costureiro e de serviços gerais. Mas há também professor, bioquímico e economista.
“Todos têm cursos profissionalizantes”, afirmou a assistente social, Elenilda Torres, ressaltando que contatos estão sendo feitos com empresas que possuam alojamentos para abrigá-los. Pelo menos, segundo ela, até sexta-feira muitos empresários estavam indo ao ginásio verificar se há pessoas com o perfil que procuram para contratação.
A empresária Binha Rios Castro é uma dos que compareceram ao ginásio com a intenção de contratar pelo menos seis para trabalhar em um restaurante e pizzaria, em Nova Mutum, na região da usina hidrelétrica de Jirau. “Eles têm imensa vontade de trabalhar, por isso mesmo se não tivessem qualificação eu faria um teste para avaliar em que área posso aproveitá-los”.
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