quarta-feira, 10 de março de 2010

Amazônia vira rota do tráfico de seres humanos

As cidades de Portel, Breves, Belém, Ilha de Marajó, no Pará, Oiapoque no Amapá e países entre os quais a Guiana Francesa e o Suriname, servem de rotas de intensas para o tráfico internacional de seres humanos e a exploração sexual de crianças e de adolescentes brasileiras. Atualmente, a exploração sexual é uma das principais atividades e vias de acesso para o tráfico de seres humanos. A denuncia foi reforçada esta semana pelo bispo da Ilha do Marajó, d. José Luis Azcona.

Há três anos, d. Azcona denuncia máfias do tráfico de seres humanos e as redes de abuso sexual de menores em municípios da Amazônia. Devido às suas denúncias, o Congresso instalou em 2008 uma Comissão Parlamentar de Inquérito que investigou as rotas de tráfico e as redes de comércio sexual na região amazônica.

O bispo disse que tomou conhecimento de um dos primeiros casos concretos de tráfico em novembro de 2007, quando uma adolescente de 16 anos, da cidade de Portel (PA), foi presa pela Polícia Federal (PF) no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP) antes de embarcar para Madri, na Espanha. Na ocasião ela relatou à PF que dias depois um grupo de meninas seguiria o mesmo destino. A rota identificada saía de Portel, seguia por Breves (PA), Belém (PA), Guarulhos e daí para o exterior.

Por causa das denúncias, ele e outros dois bispos, dom Flávio Giovenale, da Diocese de Abaetetuba, e dom Erwin Krautler, da Prelazia do Xingu, foram ameaçados de morte. "Somos três bispos ameaçados de morte por termos denunciado. Pelo que se consta, há por detrás um grupo forte e influente e, por isso, as autoridades não fazem investigação", desabafou Azcona.

Falta de fiscalização
Segundo o bispo, esses crimes ocorrem na Amazônia e em outras regiões brasileiras devido à ausência de embarcações da Marinha na costa brasileira deixa o Brasil desprotegido e vulnerável às atividades das redes internacionais do crime organizado. "É uma problema de segurança nacional. Desde o Amapá até o Pará não se vê nenhum barco da Marinha fazendo fiscalização e apreensão. É uma área aberta para o mundo e de fácil presença de traficantes", criticou. "Do Amapá para a Guiana Francesa a Marinha não se faz presente nunca", reforçou.

De acordo com o religioso a situação da cidade de Breves é muito semelhante à de Portel, onde é comum encontrar crianças e adolescentes circulando entre as embarcações. Os barcos são locais onde acontecem abuso e exploração sexual e também são meios de transporte das vítimas do tráfico de pessoas.

"Em Breves, toda a orla é indicada por moradores como local de concentração de adolescentes exploradas sexualmente. É algo notório, é uma realidade pública, qualquer um pode ir lá comprovar, a área é escura, sem policiamento e com cenário incentivador de situações de abuso e exploração", relatou.

A ilha do Marajó, por estar em região fronteiriça e próxima da Guiana Francesa, apresenta uma situação de fragilização social. "Marajó está se convertendo num lugar de perversão, de criminalidade precisamente pela ausência do Estado. O Brasil tem que olhar para toda essa Região da desembocadura do Amazonas".

Rotas do tráfico humano saem de Marajó em direção à Guiana Francesa e ao Suriname. Ele enfatizou que o arquipélago está abandonado pelas autoridades e a impunidade impera no local.

O bispo Azcona atua no enfrentamento ao tráfico de seres humanos e combate à exploração sexual com ações, principalmente, no município de Breves.

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