Com o tórax definido pelo trabalho pesado e um bronzeado amazonense típico, Valdemar Clarindo dos Santos Filho, 36 anos, tem no rosto o sorriso de uma criança que ganhou o brinquedo dos sonhos. Passa das 4 horas da tarde e, sob o sol escaldante do verão do Norte, ele e a família navegam pelo rio num percurso que ainda deve durar nove horas. Mas sua epopeia de volta para casa promete ser mais luxuosa do que de costume. Isso porque Santos comprou uma lancha de R$ 17 mil para substituir seu barquinho de tábua sem cobertura e movido a rabeta, um motor de baixa potência.
Para um morador da cidade, é como trocar um Gol 1.0 por uma Ferrari. Dentro da nova embarcação, o assento duro de madeira deu lugar às redes para esticar o corpo. Se a fome bater, um fogão improvisado cozinha alguma coisa. Encostadas num canto do barco, ainda dentro das caixas, mais novidades para a casa: uma televisão de 21 polegadas, uma antena parabólica e um gerador a diesel. Para a pouco abastada população ribeirinha da região, são sinais legítimos de progresso.
O salto social repentino da família Santos está diretamente ligado ao aquecimento da economia de Maués, uma cidadezinha de 47 mil habitantes a 267 quilômetros de Manaus, tida como o mais tradicional polo produtor de guaraná do país. Lá, o fruto processado vira pó, bastão ou extrato. Nas prateleiras dos supermercados, é vendido para os consumidores em forma de bebidas energéticas, refrigerantes, cosméticos, barrinhas de cereais e até sorvete.
A oscilação brusca do preço do guaraná nos últimos anos vem transformando o modo de vida das populações ribeirinhas da região. Em 2006, a indústria de refrigerantes não pagava mais do que R$ 7 pelo quilo do guaraná. Com demanda menor do que a oferta, o produto estava desvalorizado. Mas a procura aumentou e a safra deste ano deve alcançar R$ 30 o quilo – um aumento de mais de 330% em três anos.
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