HENRIQUE JOSÉ BORGES DE ARAÚJO*
Além das agressões promovidas por atividades humanas decorrentes da ocupação econômica nas últimas três décadas e representadas, principalmente, por desmatamentos associados à especulação de terras, crescimento das cidades, abertura de estradas, expansão da pecuária bovina, exploração irregular de madeira, agricultura familiar e agricultura mecanizada, a Floresta Amazônica é duramente impactada pelas mudanças climáticas globais em curso.
Muitos especialistas mostram-se preocupados com a crescente diminuição das chuvas sobre a Floresta Amazônica observada nos últimos anos. A redução das chuvas é apontada como o resultado dos fenômenos mais frequentes e intensos de aquecimento superficial dos oceanos Pacífico Equatorial (corrente marítima El Niño) e Atlântico Norte, que acontecem devido ao aquecimento do planeta. Com menos chuvas é grande o risco dessa mata densa e exuberante, que se espalha por quase sete milhões de quilômetros quadrados na América do Sul, se transformar em uma vegetação mais baixa, rala e seca, com aparência que fará lembrar o Cerrado do Brasil Central.
Entre os principais fatores de desequilíbrio global do clima está a emissão de gases, especialmente o gás carbônico (CO2), causadores do efeito estufa. As queimadas e incêndios florestais ocorrentes na região Amazônica estão contribuindo expressivamente para esse desequilíbrio. Desse modo, foi criado um círculo vicioso em que a emissão de gases das queimadas amazônicas provoca aquecimento e seca (efeito estufa) e propicia condições ambientais ainda mais favoráveis às queimadas e incêndios. O efeito estufa causa nas florestas a paralisação do crescimento das árvores, diminuindo o sequestro de carbono e aumentando a quantidade de material orgânico morto que se transforma em combustível e fonte de emissão de CO2.
Dados atuais divulgados pelo IPCC (sigla em inglês do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), órgão da ONU com a atribuição de avaliar regularmente as mudanças climáticas globais, indicam que as emissões mundiais de carbono equivalente ao carbono de CO2 é da ordem de 7–8 bilhões de toneladas ao ano e as queimadas amazônicas são responsáveis por cerca de 5% desse total.
Em razão da alta umidade retida pelas árvores e ambiente, sobretudo no solo e ao redor deste (raízes, resíduos vegetais e líter), a Floresta Amazônica era considerada, até pouco tempo, protegida naturalmente contra queimadas e incêndios. Entretanto, após a grande seca de 2005, considerada a mais intensa já ocorrida e que foi atribuída às mudanças climáticas globais, verificou-se que esse ecossistema é vulnerável ao fogo. Naquele ano, as habituais queimadas, utilizadas tradicionalmente para abertura e limpeza de roçados ou manutenção de pastos, fugiram totalmente ao controle e atingiram grandes áreas de florestas primárias. A maior parte dos incêndios florestais ocorridos em 2005 na Amazônia foi do tipo rasteiro, proveniente de queimadas que invadiram florestas primárias ou florestas em sistemas de produção (manejadas).
As florestas exercem um papel fundamental para o equilíbrio do clima porque reduzem a velocidade das mudanças climáticas e, na proporção em que são removidas, a situação piora, pois diminui sua capacidade de guardar e sequestrar CO2, ao mesmo tempo em que, pela inevitável queima, é aumentada a emissão desse gás para a atmosfera. Hoje, caso as florestas no mundo diminuam a captura (ou sequestro) e também passem a emitir carbono para a atmosfera, os níveis de CO2 aumentarão mais rapidamente e a estabilização do clima exigirá transformações profundas nos atuais padrões de emissões de carbono, o que implica igualmente em mudanças nos padrões de consumo, a exemplo da substituição dos combustíveis fósseis (derivados do petróleo) por combustíveis recicláveis como o álcool de cana-de-açúcar.
O ecossistema florestal amazônico quando impactado por secas e pelo fogo pode ficar severamente comprometido. Isso acontece porque são poucas as espécies de árvores capazes de resistir ao estresse térmico e hídrico e aos danos provocados pelo fogo, especialmente na região foliar (copa) e na casca, que em geral é fina, e a queima compromete os tecidos vasculares condutores de seiva. A incidência de incêndios também afeta a capacidade de regeneração da floresta, destruindo plantas jovens em estágio de muda e danificando o banco de sementes das gerações futuras.
Pesquisas conduzidas pela Embrapa em uma floresta manejada atingida por incêndios em 2005, localizada no Projeto de Colonização Pedro Peixoto, no Estado do Acre, mostram que, apesar de haver uma grande quantidade de árvores em processo de restabelecimento à ação do fogo, especialmente quanto à reconstituição da folhagem, uma quantidade ainda maior de árvores não resistiu e morreu.
As pesquisas mostram ainda uma redução de 15% na diversidade de espécies de árvores na floresta incendiada. Embora ainda não conclusivas, as pesquisas da Embrapa indicam que, pelos padrões de danos causados, a floresta foi modificada para uma condição inferior em termos de retenção de carbono, biodiversidade, serviços ambientais, etc., tornando-a, entre outros efeitos danosos, mais suscetível a novos incêndios, os quais poderão ser determinantes para a sua inteira degeneração, talvez irreversível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário