quinta-feira, 19 de abril de 2012

Funai alerta para risco de genocídio de índios isolados no Acre


O avanço da exploração econômica na fronteira entre o Brasil e o Peru ameaça causar um genocídio entre índios que vivem isolados na região, segundo organizações indígenas e indigenistas ouvidas pela BBC Brasil.
Estimados em algumas centenas pelo escritório da Funai (Fundação Nacional do Índio) em Rio Branco (AC), esses índios - em sua maioria falantes das línguas pano e aruak - vivem nas cabeceiras de rios na fronteira, atravessando-a livremente.
No entanto, segundo indigenistas, a exploração de madeira e o tráfico de drogas estão deslocando esses povos, que, em contato com outras populações (indígenas ou não), poderão ser dizimados por doenças ou confrontos armados.
"Notamos que há mudanças nas rotas dos isolados, que têm avançado além dos espaços que costumavam frequentar, por conta da pressão que sofrem do lado peruano", diz a coordenadora da Funai em Rio Branco, Maria Evanízia dos Santos.
"Índios contatados estão preocupados, e muitas aldeias se mudaram por conta da proximidade, para evitar confrontos".
O quadro, diz Santos, se agravará caso obras planejadas por governantes locais saiam do papel. Há planos de construir uma estrada entre as cidades peruanas de Puerto Esperanza e Iñapari, margeando a fronteira com o Brasil, e de fazer uma rodovia ou uma ferrovia entre Cruzeiro do Sul (AC) e Pucallpa, no Peru. Ambas as obras cruzariam territórios de índios isolados.
"Se eles forem espremidos, vão para cima dos manchineri da TI (Terra Indígena) Mamoadate, que vão se defender. Como há histórico de conflitos, não é leviano falar em risco de genocídio", diz o coordenador-substituto da Funai em Rio Branco, Juan Scalia.
O termo também é citado por indígenas peruanos: "Se a estrada de Puerto Esperanza a Iñapari sair, haverá um genocídio", afirma Jaime Corisepa, presidente da Federação Nativa do Rio Madre de Dios e Afluentes (Fenamad), principal movimento indígena do Departamento (Estado) de Madre de Dios.
Avanço da exploração entre o Brasil e o Peru  pode levar a genocídio entre índios da região (Foto: Funai/BBC)
Avanço da exploração entre o Brasil e o Peru podelevar a genocídio entre índios da região (Foto: Funai/BBC)

As pressões sofridas por índios isolados no território peruano e seus possíveis efeitos no Brasil já fizeram com que o presidente da Funai, Márcio Meira, procurasse a embaixada do Peru em busca de providências.
Embora a expressão índios isolados possa sugerir grupos que vivam completamente alheios ao mundo exterior, há numerosos relatos de encontros entre essas populações e índios contatados, bem como de encontros entre índios isolados e não-indígenas que habitam o entorno de seus territórios.

Além das ameaças impostas pelas estradas, por madeireiros e traficantes, ONGs alertam para os riscos da exploração petrolífera na região fronteiriça. No lado peruano, vários lotes já foram cedidos a empresas privadas para a prospecção dos bens.

Risco de conflitos
Paralelamente, movimentos como a Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-Acre) têm promovido encontros com índios brasileiros contatados para conscientizá-los sobre as ameaças sofridas pelos isolados e desencorajar conflitos.
"Eles percebem que os isolados estão vivendo o tempo das correrias de seus avós, que fugiam dos empresários da seringa", diz Marcela Vecchione, consultora da CPI-Acre. Ela se refere à violência sofrida pelos índios da região durante o ciclo da borracha, entre o fim do século 19 e início do 20.
Acredita-se que os índios isolados sejam remanescentes de grupos massacrados e perseguidos durante aquele período. Com o declínio da extração de borracha, eles voltaram a seus territórios.
"Sabemos que eles estão bem, têm comida suficiente e vivem em malocas bem cuidadas", diz Santos, da Funai, citando informações colhidas em expedições do órgão. Numa delas, em março de 2010, um avião sobrevoou uma aldeia de índios isolados, que atiraram flechas contra a aeronave. As fotos estamparam jornais do mundo todo.
Encontros
Muitos desses encontros resultaram em conflitos, o que rendeu aos isolados o apelido de "índios brabos" na região. Em 1986 e 1987, segundo relato do sertanista da Funai José Carlos Meirelles, o acirramento dos conflitos levou índios kaxinawá e ashaninka contatados a pedirem que o governo "amansasse os brabos".
Em resposta, a Funai criou em 1988 o Departamento de Índios Isolados, cuja missão é proteger esses povos sem promover nenhuma relação. Desde então, a política da Funai estabelece que só haverá contato com esses indígenas se eles desejarem.
No entanto, têm se tornado cada vez mais constantes os relatos da presença de índios isolados em áreas ocupadas por indígenas contatados ou comunidades de agricultores e pescadores.
Em informativo publicado em dezembro de 2010 pela CPI-Acre, indígenas e ribeirinhos entrevistados dizem que índios isolados furtaram seus pertences, como roupas, utensílios domésticos e ferramentas. Os saques, segundo o informe, têm sido especialmente frequentes no município de Jordão (AC). Um deles, em 2009, ocorreu em vilarejo a cinco horas de caminhada da sede da prefeitura.
Também na publicação da CPI-Acre, Getúlio Kaxinawá, um dos principais líderes indígenas do rio Jordão, relata a morte de um 'brabo' por caçadores não-índios, em 2000. "Sei também que em maio de 1996 os brabos mataram duas mulheres lá na colocação Tabocal (...), a dona Maria das Dores (47 anos) e sua filha Aldeniza (13 anos). A filha, atingida por várias flechadas, uma delas na garganta, morreu nessa colocação e a mãe, com uma flechada na barriga, só morreu quase dois meses depois num hospital de Rio Branco".
Kaxinawá relata ainda um ataque dos "brabos" que resultou na morte do dono de um seringal, em 1997, e de ofensiva empreendida pelo grupo contra uma comunidade de não-índios: "Cercaram a sede do (seringal) Alegria, fazendo muito medo a todos os moradores de lá. Eles também cercaram e flecharam uma escola lá no alto Tarauacá e depois a maioria dos moradores se retirou de lá por causa da vingança dos brabos".
Exploração de petróleo
A ONG Survival International afirma que o governo peruano está permitindo que as empresas avancem sobre territórios de índios isolados, violando diretriz da ONU que defende a proteção dessas áreas.
A organização diz que, em 1980, ações semelhantes provocaram a morte de quase metade dos membros do povo nahua. À época, funcionários da Shell abriram caminhos na terra indígena em que a comunidade vivia isolada, disseminando doenças entre seus integrantes, segundo a ONG.
Também há preocupações quanto à exploração de petróleo e gás do lado brasileiro. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) deve concluir neste ano testes sísmicos para avaliar a viabilidade de extrair os recursos.


Fonte: BBC

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Parque Nacional da Serra do Divisor-AC




No extremo noroeste do país, existe uma área da floresta amazônica que o homem ainda nem conseguiu tocar. A própria natureza criou barreiras que dificultam o acesso e assim ela se mantém protegida. Seus ecossistemas intocados fazem dela uma importante região que precisa continuar preservada, na última porção dentro do território brasileiro antes da fronteira com o Peru.
O Parque Nacional da Serra do Divisor foi criado em 1989, durante o governo Sarney, em um contexto de pressão internacional de ambientalista e defensores dos povos da floresta. Seus 843.000 hectares protegem a parte mais ocidental da Amazônia.
CLIMA
O clima da região é tropical, quente e úmido, com temperatura média anual de 24°C. Os meses mais secos são agosto e setembro. O Parque pode ser visitado sem restrição durante o ano todo.
ASPECTOS NATURAIS
Os ecossistemas encontrados no parque ainda não foram alterados pelo homem. O nome Divisor é pelo fato da localização do parque, no trecho que divide as águas entre as bacias hidrográficas do Vale do Médio Rio Ucayali (Peru) e do Alto Rio Juruá. As serras apresentam regiões alagadas, igapós, igarapés e lagos fluviais.

A fauna local apresenta, segundo alguns estudos, cerca de 30 espécies ameaçadas, além de 485 espécies diferentes de pássaros.


LOCALIZAÇÃO

O Parque Nacional da Serra do Divisor está localizado no noroeste do Estado do Acre, na fronteira com o Peru, pertencendo aos municípios de Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima, Rodrigues, Porto Válter e Marechal Taumaturgo.

ACESSO

Para chegar até lá, a partir de Rio Branco, seguir pela BR-364 por 600 km de estrada de terra, que fica trafegável o ano inteiro. Outra opção é por via aérea até Cruzeiro do Sul e daí seguir de barco durante 2 dias até o parque.



segunda-feira, 9 de abril de 2012

Infraestrutura tecnológica do Sipam cadastra 117 mil famílias em programas sociais

A infraestrutura tecnológica do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) está contribuindo para ampliar o acesso das famílias que vivem em situação de extrema pobreza nos programas sociais do governo federal na região amazônica. De novembro de 2011 até  março deste ano, foram mais de 117 mil famílias beneficiadas pelos programas sociais: o bolsa família e o bolsa verde. O cadastramento foi possível graças a parceria ente os Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, e do Meio Ambiente e o Sipam.

No caso do bolsa família, o Sipam instalou antenas de transmissão via satélite em lugares de difícil acesso e comunicação. Com a colocação no final do ano passado de 27 equipamentos, foi possível incluir 101 mil famílias no bolsa família. Os técnicos do Sipam se preparam para mais quatro missões ainda nesse mês abril para os estados do  Acre e do Amazonas. Eles instalarão mais 4 antenas, cumprindo o acordo de Cooperação com o MDS, que prevê 166 equipamentos na Amazônia até 2013. “Com a antena, o técnico do município faz o cadastramento das famílias on-line. Além disso, usaremos essas informações para alimentar o nosso banco de dados sobre a Amazônia”, ressalta o diretor técnico do Sipam, Cristiano Cunha.

No Bolsa Verde, foram beneficiadas 17 mil famílias em situação de extrema pobreza e que vivem do extrativismo sustentável na Amazônia. A expectativa é cadastrar mais 11 mil nesse ano de 2012. Desde  novembro do ano passado, já foram beneficadas 17 mil famílias na região amazônica. Com isso, o bolsa verde estará incentivando 28 mil extrativistas amazônicos a fazer um uso sustentável da floresta, por meio da exploração do látex, das castanhas, de óleos vegetais, do açaí ou até da madeira, segundo critérios fixados por planos de manejo.
 
“O bolsa verde será extendido para todo o Brasil nesse ano e pretendemos chegar a 50 mil famílias cadastradas”, afirma a diretora de extrativismo do MMA, Claudia Calorio.  “Estamos tirando da invisibilidade essas pessoas que vivem da floresta, incentivando-as ao uso consciente”, complementa.  As famílias do bolsa verde também recebem o  bolsa família.

A cada três meses o Sipam monitora (com radares, sensores e imagens de satélites) o desmatamento nessas áreas de conservação ambiental para que as famílias em situação de extrema pobreza e que vivem da atividade produtiva possam receber os recursos do bolsa verde (R$ 300,00 por trimestre). A condição para receber o benefício é não desmatar e usar os recursos da floresta de forma sustentável. O  objetivo do Programa é aliar a preservação ambiental à melhoria das condições de vida e a elevação da renda dessas famílas que vivem do uso sustentável da cobertura vegetal, dentro dos limites da lei.

Fonte: Assessoria Sipam

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Desmate na Amazônia triplica de janeiro a março de 2012, diz Inpe


Entre janeiro e março de 2012, o desmatamento na Amazônia Legal quase que triplicou, se comparado com o mesmo período do ano passado.
O volume de nuvens foi menor no primeiro trimestre deste ano, o que elevou a qualidade de visualização dos chamados "polígonos de desmatamento".
Os dados foram divulgados pela ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, em coletiva realizada em Brasília.
Segundo o sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), no primeiro trimestre os satélites detectaram a perda de 389 km² da cobertura florestal, número que é 188% maior se comparado ao mesmo período de 2011 (135 km²).
A ministra não considera que os dados não representam um crescimento no desmate, já que, para ela, a redução da quantidade de nuvens sobre o bioma facilitou a fiscalização feita por sensoriamento remoto. "Não temos crise de desmatamento, como foi ano passado, não tem aumento de desmatamento", disse.
Estado do Amapá tem 76,6% de seu território coberto pela floresta amazônica. Na imagem, o Parque Nacional Montanhas de Tumucumaque. (Foto: Divulgação/Grayton Toledo/Governo do Amapá)Redução do volume de nuvens sobre a Amazônia melhorou a visualização por satélite. Desmate triplicou no primeiro trimestre de 2012, se comparado ao mesmo período do ano passado. (Foto: Divulgação/Grayton Toledo/Governo do Amapá)
Em fevereiro de 2011, apenas de 1 km² de vegetação derrubada foi detectado, já que a cobertura de nuvens era de 93%. Neste ano, o mês registrou desmate de 307 km², a maior parte no Mato Grosso (285 km²). "Ano passado não havia desmatamento detectado porque nós não víamos nada", disse Gilberto Câmara, diretor do Inpe.
Para Câmara, a pesquisa em campo feita pelos órgãos de fiscalização verificou que 68% das áreas encontradas devastadas (por desmate e queimadas) resultam de atividades ilegais ocorridas em 2011.
Estabilidade
A ministra também ressaltou que não houve aumento absoluto no desmate ao comparar o período de agosto de 2011 a março de 2012 com os mesmo meses entre 2010 e 2011.
Entretanto, chamou a atenção para a elevação de atividades ilegais (no período, desmate subiu de 12 km² para 56 km²). O aumento pode estar associado a uma migração de desmatadores do Pará para o estado. Segundo Izabella, órgãos ambientais vão melhorar a fiscalização na região.
Código florestal
Sobre as mudanças na legislação ambiental, que tramita na Câmara dos Deputados, pode também influenciar o desmatamento, de acordo com o governo. "Ainda tem gente em campo dizendo, segundo os relatos da inteligência, que você pode desmatar que vai ser anistiado". 
"As equipes têm se deparado com colocações de que o Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais] não teria competência mais de fiscalizar. Não é verdade", disse ela. Só este ano, o Ibama aplicou quase R$ 50 milhões em multas por desmatamento na Amazônia e embargou áreas, principalmente no Mato Grosso e Pará.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Brasil quer emplacar o peixe pirarucu como o ‘bacalhau da Amazônia’

O “gigante” dos rios amazônicos, com mais de três metros de comprimento e até 250 kg, quer ganhar fama nas mesas brasileiras e, no futuro, competir com os "parentes" nórdicos pelo título de melhor bacalhau do mundo.
Essa é a intenção de um projeto realizado no Amazonas que tem a pesca do peixe pirarucu (Arapaima gigas) como principal gerador de renda para ribeirinhos do Baixo Rio Solimões.
A carne do peixe é destinada à produção de bacalhau, resultante de um processo de beneficiamento, que poderá ser utilizado em pratos tradicionais que têm o pescado como ingrediente principal.
O gosto é parecido com o bacalhau comum, normalmente importado da Noruega, de acordo com o chef gastronômico Felipe Schaedler, que trabalha com a carne do pirarucu em um restaurante de Manaus. Ele disse ser possível substituir o pescado "estrangeiro" pelo brasileiro
“Todas as receitas tradicionais podem ser feitas com o pirarucu”, disse Schaedler, que já criou em parceria com outro chef ao menos oito pratos com o bacalhau da Amazônia.
Pescador captura exemplar de pirarucu em lago da Amazônia. Espécie pode pesar até 250 kg e medir três metros (Foto: Divulgação/Jimmy Christian)Pescador captura exemplar de pirarucu em lago da Amazônia. Espécie pode pesar até 250 kg e medir três metros (Foto: Divulgação/Jimmy Christian)
Consumo sustentável
Esta realidade só foi possível devido à implantação da primeira indústria de salga de pescados no interior da floresta, em Maraã, a 635 quilômetros de Manaus (AM). A fábrica, a primeira da América do Sul, de acordo com o governo do Amazonas, vai permitir uma produção em massa do "bacalhau da Amazônia" e sua comercialização para outras regiões do país.

Da primeira safra de pirarucus destinados à obtenção do bacalhau (60 toneladas), o Grupo Pão de Açúcar adquiriu cinco toneladas que serão vendidas a partir deste mês nas lojas dos supermercados Pão de Açúcar das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.
O preço do quilo ficará entre R$ 35 e R$ 39, um valor competitivo se comparado ao bacalhau do Porto, por exemplo, que, em período de promoção, a mesma pesagem custa R$ 34,90.
É o primeiro passo para difundir o produto pelo resto do país, de acordo com Hugo Bethlem, vice-presidente executivo de Relações Corporativas do grupo, que também abrange as redes Extra e Assaí. Segundo ele, se o pescado “cair nas graças do consumidor", certamente haverá mais pedidos de compra.
“Esperamos que, com o tempo e a continuidade do manejo sustentável, consigamos elevar a venda deste pescado. Pode demorar um pouco, mas já demos o primeiro passo”, disse ele.
O grupo, segundo Bethlem, importa anualmente 5 mil toneladas de bacalhau, provenientes principalmente da Noruega e a rede é a terceira maior compradora de bacalhau do mundo.
O pescador Luiz Gonzaga segura embalagem com postas de bacalhau do pirarucu, o "bacalhau da Amazônia" (Foto: Eduardo Carvalho/G1)O pescador Luiz Gonzaga segura embalagem com postas de bacalhau do pirarucu, o "bacalhau da Amazônia" (Foto: Eduardo Carvalho/G1)
Sem impacto ambiental
De acordo com Eron Bezerra, secretário de Produção Rural do Amazonas, uma nova unidade da indústria de salga deve ser inaugurada ainda este ano em Fonte Boa, a 680 quilômetros da capital amazonense.

As duas unidades vão empregar diretamente 150 pessoas e gerar outros 5 mil empregos indiretos, principalmente na pesca.  Os empreendimentos tiveram investimento de R$ 4 milhões – divididos entre os governos estadual e federal, por meio da Financiadora de Projetos e Estudos (Finep), e pela Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa).
"Queremos concorrer com o bacalhau que vem da Noruega. Apesar da pesca ser controlada, temos muitos lagos dentro da Reserva Mamirauá e fora dela onde a pesca planejada poderá ser realizada. Queremos um nicho de mercado sustentável", disse.
Segundo recomendações do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), a pesca do pirarucu pode ocorrer apenas entre outubro e novembro, e em locais onde há atividades de manejo regulamentadas.
A primeira safra voltada para a produção de bacalhau ocorreu no ano passado e contou com 2.700 peixes que foram retirados de 37 lagos da Reserva Mamirauá.
“Esses peixes, encaminhados para a indústria, geraram uma renda de R$ 830 mil, valor que foi dividido por 530 pescadores. Isso ajuda a melhorar nossa condição de vida. Antes, o que pescávamos era apenas para alimentar minha família, meus filhos. Agora a gente consegue investir em uma casa melhor, em um novo motor para os barcos”, disse Luiz Gonzaga Medeiros de Matos, 47 anos, líder da colônia de pescadores de Maraã.
De acordo com Virgílio Viana, superintendente da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), é uma oportunidade de difundir o consumo consciente.
Canapé com farofa de Uarini, pirarucu desfiado e pacovan na escama do peixe. Bacalhau do pescado amazônico pode ser empregado em pratos tradicionais. (Foto: Eduardo Carvalho/G1)
Fonte: globonatureza

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Grandes cidades em países em desenvolvimento são extremamente vulneráveis às mudanças climáticas, diz IPCC


  • Enchente e deslizamento de terra em  Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, em janeiro de 2011, é um dos eventos relacionados à mudança climática
    Enchente e deslizamento de terra em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, em janeiro de 2011, é um dos eventos relacionados à mudança climática
A mudança climática afetou os extremos climáticos, com ondas de calor, recorde de altas temperaturas e, em muitas regiões, precipitação intensa na segunda metade do século passado, informa relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima) sobre Gestão de Riscos de Eventos Extremos e Desastres para avançar na Adaptação às Mudanças Climáticas (SREX). A vulnerabilidade de grandes cidades em países em desenvolvimento, como o Brasil, e a seca no nordeste são destacados no relatório.
Para os cientistas do painel, a adaptação às mudanças e a gestão de riscos de desastres de eventos extremos deve ser prioridade em todos os países. “Vemos que os eventos climáticos extremos atingem todos os países, mas a um nível local. Por isso, são necessários detalhes locais para tomada de decisões, embora sem esquecer o contexto global, de diminuir as emissões de gases do efeito estufa e adaptar às mudanças”, lembra Rajendra Pachauri, presidente do IPCC.


Pachauri destaca ainda que há uma grande disparidade nos impactos de eventos extremos similares nas diferentes partes do globo. O relatório aponta que os países em desenvolvimento são os que mais sofrem com as mudanças e por isso são também aqueles que mais devem investir na adaptação, baseado no conhecimento já existente.
O número de mortes por ciclone nas últimas décadas, exemplifica o relatório, foi maior em países pobres, sendo que a maioria da população exposta a este evento viva em países ricos. 11% das pessoas expostas a eventos extremos vivem em países pouco desenvolvidos, mas eles registram mais de 53% das mortes em desastres.
“Há muitas opções atualmente disponíveis que poderiam aumentar a preparação para a efetiva resposta a eventos climáticos extremos e melhorar a recuperação das áreas”, explica Vicente Barros, co-presidente do Grupo de Trabalho II. “Este relatório identifica lições aprendidas com vasta experiência em gestão de riscos de desastres e do foco crescente na adaptação às alterações climáticas”.
Seca e urbanização
A rápida urbanização e o crescimento das megacidades, especialmente em países em desenvolvimento, têm levado ao surgimento de comunidades urbanas extremamente vulneráveis, particularmente nos assentamentos informais e com a gestão inadequada do solo, afirma o relatório. Para lidar com essas vulnerabilidades críticas, será necessário considerar as forças sociais, políticas e econômicas, incluindo a migração rural-urbana, mudança nos meios de subsistência e as desigualdades econômicas como principais insumos para a tomada de decisões.
O relatório prevê um aumento em duração e intensidade das secas em algumas regiões do mundo, incluindo o nordeste brasileiro. Outras regiões que já sofrem com as secas e devem continuar a enfrentar o problema são: o sul da Europa e da região do Mediterrâneo, Europa central, centro da América do Norte, América Central e México e África Austral.
Ao mesmo tempo, há uma média confiança (numa escala com alta, média e baixa confiança) no aumento no comprimento ou no número de períodos quentes ou ondas de calor em muitas regiões do globo. Além disso, os cientistas acreditam no provável aumento na frequência de precipitações intensas ou aumento na proporção de quedas pesadas em muitas áreas do globo, em especial nas regiões de altas latitudes e tropicais, e no inverno nas latitudes médias do norte.
Conhecimento para adaptar
Os extremos climáticos são combinados com vulnerabilidades sociais e exposição a riscos para determinar os desastres relacionados ao clima. Assim, o Painel destaca que são necessárias políticas para evitar, se preparar para responder e se recuperar dos desastres para reduzir o impacto destes eventos e aumentar a resiliência das pessoas.
A exposição cada vez maior de pessoas e bens econômicos tem sido a principal causa, a longo prazo, do aumento das perdas econômicas relacionadas aos desastres do clima, indica o relatório. E os países com média e baixa renda são os mais vulneráveis.
De acordo com o relatório, as perdas econômicas ligadas a desastres associados ao clima são mais elevadas em países desenvolvidos. Mas as taxas de mortalidade e perdas econômicas expressas como uma proporção do PIB são maiores nos países em desenvolvimento. Durante o período de 1970 a 2008, mais de 95% das mortes por desastres naturais ocorreram em países em desenvolvimento. Em alguns países, em particular os insulares, as perdas têm elevadas, superando 1% do PIB em muitos casos e chegando a 8% nos casos mais extremos. Em alguns casos, como da ilha Niue na Polinésia afetada pelo ciclone Heta em 2004 e de Granada afetada pelo furação Ivan no mesmo ano, os custos superaram 200% do PIB.
“A principal mensagem do relatório é que nós sabemos o suficiente para tomar boas decisões sobre gestão de riscos de desastres relacionados com as mudanças climáticas. Às vezes, nós nos aproveitamos deste conhecimento, mas muitas vezes nós não fazemos isso”, diz Chris Field, co-presidente do Grupo de Trabalho do IPCC.
Segundo Field, o desafio é de um lado aumentar o conhecimento de base e de outro favorecer a tomada de boas decisões, mesmo em situações incertas. “As medidas mais eficazes são aquelas que suportam o desenvolvimento sustentável, fornecem uma
carteira diversificada de opções, e representam estratégias de "baixo arrependimento" no sentido de trazer benefícios para vários futuros”, analisa Field.
“O SREX oferece um nível de detalhe sem precedentes sobre as mudanças nos extremos climáticos já observados e também projetados, com base numa avaliação global de mais de 1.000 publicações científicas”, conta Qin Dahe, co-presidente do Grupo de Trabalho I do IPCC, que participou da elaboração do relatório.
No total, 220 autores de 62 países trabalharam no SREX, que conta com 592 páginas e deve ser divulgado pelo IPCC. Em abril e maio, ele será apresentado para políticos da América Latina, Ásia e África.
Fonte: Do UOL