segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Relatório diz que mudança do clima pode afetar alimento e energia no país

A vazão de importantes rios do país e o abastecimento de lençóis freáticos, responsáveis pelofornecimento de água potável para a população, poderão ser comprometidos se a temperatura subir até 6 ºC nas próximas décadas e o volume de chuvas diminuir, conforme cenário do primeiro relatório de avaliação elaborado pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC) que considera que os níveis de emissões de gases causadores de efeito estufa permaneçam altos.
Neste ambiente, a agricultura e o setor de energia do Brasil poderão ser fortemente impactados, sob risco de queda brusca do Produto Interno Bruto (PIB) e constantes crises que envolvem o abastecimento energético e de segurança alimentar.
Dividido em três volumes, o documento feito por 350 cientistas de diversas instituições será divulgado oficialmente nesta segunda-feira (9) durante a 1ª Conferência Nacional sobre o tema, que acontece na cidade de São Paulo.
Os cientistas afirmam que o relatório não representa "o fim do mundo”. No entanto, advertem que, se a situação atual de emissões de gases permanecer e nada for feito pelo governo para prevenir eventos naturais extremos, a situação pode se agravar.
Possibilidades dramáticas
- agricultura pode perder até R$ 7 bilhões por ano com o clima;
- queda na produtividade do café, soja, arroz e outras culturas;
- redução de chuvas no Norte e Nordeste; aumento no Sul e Sudeste, com risco de inundações;
- risco para o abastecimento das águas subterrâneas;
- em todo o litoral, volume de pesca pode cair 6% em 40 anos.
Cada vez mais quente
Segundo o documento, a temperatura no Brasil pode aumentar de 3 ºC a 6 ºC até 2100, situação que ficaria ainda mais crítica com uma possível escassez de chuvas.

Na Amazônia, por exemplo, em 2100 a temperatura pode subir cerca de 6 ºC e a distribuição de chuvas na região pode cair 45%.

Desmatamento e queimadas no bioma podem contribuir para alterar drasticamente o ciclo hidrológico da floresta (principalmente entre os meses de julho e novembro), prolongando a estação de seca e alterando a distribuição de chuvas no país.
O calor acentuado, até 5,5 ºC a mais do que a temperatura registrada atualmente, desencadearia um processo de desertificação da Caatinga, bioma já considerado ameaçado de extinção. No mesmo cenário de emissões altas, o Pantanal sofreria uma redução de 45% na quantidade de chuvas e um aumento de 4,5 ºC na temperatura.
Mata Atlântica e Pampa também registram, segundo o panorama de altas emissões, aumento na temperatura até 2100, de forma um pouco mais amena se comparado com as demais regiões. No entanto, o que preocupa, segundo o relatório, é o crescimento das taxas de pluviosidade.
Enquanto na porção Sul/Sudeste da Mata Atlântica a quantidade de chuva pode subir até 30% nas próximas décadas, no Pampa, que abrange os estados do Sul, esse cresce 40% – o que aumenta o risco de inundações e deslizamentos em áreas costeiras.
“São projeções dentro de cenários extremos de emissões de gases de efeito estufa. Se em 30 anos não mudarmos essa taxa atual, a temperatura média anual do país já deve aumentar 1 ºC”, explica Tércio Ambrizzi, professor titular do Departamento de Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP) e um dos coordenadores do Volume 1 do relatório, que trata da “Base Científica das Mudanças Climáticas”.
Os cientistas alertam que, apesar da divulgação de informações sobre a variação das chuvas, ainda há discordâncias referentes a estes índices, que mudam de acordo com o modelo climático aplicado. Para eles, ainda é necessário discutir mais o tema.
Rio Tocantins está 2,5 metros acima do esperado para a época do ano (Foto: Reprodução/TV Mirante)Vazão do Rio Tocantins pode diminuir 20%
(Foto: Reprodução/TV Mirante)
Rios mais secos e pesca ameaçada
Bacias importantes do leste da Amazônia (nas proximidades do Pará) e do Nordeste podem ter reduções significativas em suas vazões. A estimativa é de queda de 20%. Segundo o documento, o Rio Tocantins, que passa por Goiás, Tocantins, Maranhão e Pará, poderá ter uma redução de até 30% em seu escoamento.
Essa diminuição afetaria, por exemplo, a geração de energia elétrica por hidrelétricas e a distribuição de eletricidade pelo país. Além disso, forçaria o governo a utilizar as termelétricas, consideradas mais poluentes.
No Sul do país, a Bacia do Paraná-Prata poderá ter aumento de vazão entre 10% e 40% nas próximas décadas. No entanto, os cientistas apontam que ainda há incertezas a respeito.
O relatório informa ainda que a mudança climática pode afetar as taxas de recarga de águas subterrâneas, ameaçando a qualidade desse recurso armazenado no subsolo. Os pesquisadores apontam que, mesmo sabendo de tais consequências, ainda é prematuro afirmar quais danos ocorrerão devido a poucas pesquisas realizadas sobre o tema.

Quanto aos oceanos, o documento diz que a acidificação será acentuada se as emissões de gases permanecerem altas e o potencial de pesca em toda a costa brasileira poderá diminuir em 6% nos próximos 40 anos.
Aumento da temperatura por biomas no Brasil (Foto: G1)
Impactos na agricultura
Estudos utilizados pelo painel brasileiro para elaborar o relatório de avaliação apontam que as mudanças climáticas reduzirão a produtividade de quase todas as culturas agrícolas existentes no país atualmente. A previsão de perdas econômicas causadas por geadas e secas na agricultura gira em torno de R$ 7 bilhões anuais até 2020.
Previsões científicas apontam que, se nada mudar no cenário de emissões, nos próximos sete anos o plantio de soja perderia 20% de sua produtividade e 24% até 2050. Até este mesmo ano, a área plantada de arroz no Brasil pode retroceder 7,5%, a de milho 16% e o cultivo de algodão pode decrescer 4,7%. A safra de laranja também poderá ser prejudicada por doenças prejudiciais ao fruto.
De acordo com Eduardo Assad, pesquisador da Embrapa e coordenador do Volume que trata sobre "Impactos, Vulnerabilidades e Adaptação às mudanças climáticas", o café-arabica, importante variedade cultivada no país, também poderá sofrer com o calor. Plantado principalmente na região Sudeste (Minas Gerais lidera a produção), este grão não conseguirá se desenvolver em temperaturas acima de 34 ºC, oferecendo risco à expansão da cultura.
Estima-se que até 2050 o clima influencie na perda de 10% de tudo o que for plantado no país. “A alternativa será trabalhar com variedades de café que tenham mais tolerância ao calor”, explica Assad. Apesar dos riscos à agricultura, ele comenta que o setor é o que tem planos de adaptação e mitigação mais avançados até o momento.
Em contrapartida, o calor pode beneficiar a cana-de-açúcar, planta muito resistente ao calor e à seca. A principal mudança no cultivo de cana ocorreria em São Paulo, onde haveria "transferência" da produção da região oeste para o leste do estado.
Governo precisa agir contra desastres
Para Emílio La Rovere, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador do Volume 3 do relatório, que trata da "Mitigação à Mudança Climática", é necessário aperfeiçoar as políticas públicas voltadas à redução das emissões, planejando o combate a longo prazo, após 2020.

A data marca o prazo final para o cumprimento das metas brasileiras de redução de emissões, anunciadas em 2009 durante a conferência climática de Copenhague. Na época, o Brasil se comprometeu em diminuir entre 36,1% e 38,9% do total de emissões nacionais em comparação aos índices de 2005. Em junho deste ano, o governo anunciou que o país já atingiu cerca de 62% de sua meta.

La Rovere afirma que, se nada for feito para restringir as emissões pós 2020, o Brasil pode lançar na atmosfera 2,5 bilhões de toneladas de CO2 equivalente já em 2030. Para se ter ideia, o número supera o total de 2005, quando as emissões totalizavam cerca de 2 bilhões de toneladas. Em 2010, este número caiu para 1,25 bilhão de toneladas de CO2.

“Há uma dificuldade no pós 2020. Com o nível de desmatamento baixo, haverá uma pressão maior para o aumento da queima de combustíveis fósseis. Reduzir as emissões da indústria e dos transportes pode afetar a economia. A ideia é conseguir um crescimento econômico com menor consumo de energia e com mais energia renovável. Isso vai ser fundamental para que, após 2020, continuemos a reduzir as emissões”, explica Emílio.

Sobre planos de prevenção aos desastres climáticos, Eduardo Assad afirma que é necessário cuidar da já frágil região costeira do país, onde mora a maioria da população, realizando planos como o de zoneamento de risco urbano. Segundo ele, isso pode evitar, por exemplo, deslizamentos de encostas em períodos chuvosos.
“Não dá mais, como brasileiro, para aceitar mais desastres que matem mais de mil brasileiros de uma só vez. Medidas protetoras e preventivas têm de ser feitas urgentemente”, disse o pesquisador. "Os eventos extremos estão acontecendo com maior frequência. A população que não estiver preparada, vai sofrer com isso".
Imagem área mostra devastação em área de Nova Friburgo (Foto: Marino Azevedo/Governo do Estado do Rio de Janeiro)Imagem aérea mostra devastação em bairro de Nova Friburgo, durante deslizamentos ocorridos por conta da chuva, em 2011. Falta de planejamento para prevenção de desastres naturais pode fazer novas vítimas (Foto: Marino Azevedo/Governo do Estado do Rio de Janeiro)

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Novo relatório climático diz que ação humana causa aquecimento global

Com informações do globonatureza
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, IPCC na sigla em inglês, divulgou nesta sexta-feira (26) um novo relatório que aumenta o grau de certeza dos cientistas em relação à responsabilidade do homem no aquecimento global.

Chamado de "Sumário para os Formuladores de Políticas", o texto afirma que há mais de 95% (extremamente provável) de chance de que o homem tenha causado mais de metade da elevação média de temperatura registrada entre 1951 e 2010, que está na faixa entre 0,5 a 1,3 grau - a edição anterior falava em mais de 90%.

O documento apresentado em Estocolmo, na Suécia, em conferência científica realizada ao longo desta semana, mostra também que o nível dos oceanos aumentou 19 centímetros entre 1901 e 2010, e que as concentrações atmosféricas de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso aumentaram para "níveis sem precedentes em pelo menos nos últimos 800 mil anos".
O novo relatório diz ainda que há ao menos 66% de chance de a temperatura global aumentar pelo menos 2 ºC até 2100 em comparação aos níveis pré-industriais (1850 a 1900), caso a queima de combustíveis fósseis continue no ritmo atual e não sejam aplicadas quaisquer políticas climáticas já existentes.
Os 259 pesquisadores-autores de várias partes do mundo, incluindo o Brasil, estimam ainda que, no pior cenário possível de emissões, o nível do mar pode aumentar 82 centímetros, prejudicando regiões costeiras do planeta, e que o gelo do Ártico pode retroceder até 94% durante o verão no Hemisfério Norte (veja abaixo uma tabela com os eventos climáticos possíveis, segundo os cientistas).
Trata-se da primeira parte de um conjunto de dados que servirá de base para as negociações climáticas internacionais. A última versão saiu em 2007, quando o estudo rendeu ao painel de especialistas o Prêmio Nobel da Paz. O primeiro capítulo divulgado nesta sexta, de um total de três, aborda A Base das Ciências Físicas. As demais partes serão publicadas em 2014.
IPCC - arte (Foto: G1)
Aquecimento quase certo
Os cientistas tratam como fato o aumento médio de 0,85 ºC na temperatura global entre 1880 e 2012 e que é “muito provável” que desde 1950 houve redução de dias e noites mais frios e aumento de dias e noites mais quentes em todo o planeta.


A temperatura da superfície do oceano teve aumento de 0,11 ºC por década entre 1971 e 2010, e a água marinha está mais ácida, fator que pode prejudicar o ecossistema.

Um ponto considerado polêmico do documento, o chamado "hiato" da mudança climática, foi mantido. O trecho explica que houve uma "desaceleração" no aumento da temperatura global entre 1998 e 2012, com taxa de aquecimento de 0,05 ºC por década, enquanto que período entre 1951 e 2012, essa taxa era de 0,12 ºC. Para o IPCC, esta desaceleração sentida não significa uma mudança de curso no aquecimento do planeta.


Ao avaliar quatro cenários de emissões de gases, o IPCC fez previsões de que até 2100 a temperatura no planeta pode aumentar entre 0,3 ºC e 1,7 ºC (no cenário mais brando, com menos emissões e políticas climáticas implementadas) e entre 2,6 ºC 4,8 ºC se não houver controle do lançamento de gases-estufa.

O relatório aponta também que é forte a evidência de que as camadas polares e glaciares do Ártico e Antártica têm perdido massa de gelo e reduzido sua extensão oceânica.
O texto diz que são “altamente confiáveis” as informações de que a Groenlândia e a Antártica perderam massa de gelo nas últimas duas décadas e que já há migração de ecossistema terrestre para áreas onde o frio predominava (e não havia chance de sobrevivência da maioria dos tipos de vegetais).
“O mais importante é que o gelo fora da região antártica continua com ritmo acelerado de derretimento e, principalmente, as geleiras não polares (encontradas em montanhas) continuam a reduzir rapidamente e a contribuir para o aumento do nível do mar”, explicou o glaciologista brasileiro Jefferson Simões, um dos revisores da parte que aborda as massas de gelo do planeta.
“Agora nós temos muito mais dados e um detalhamento maior, que possibilita que as previsões sejam corrigidas”, complementa.
Segundo o IPCC
- temperatura global aumentou 0,85 ºC entre 1880 e 2012;
- há 95% de chance de que o homem causou aquecimento;
- concentração de CO2 no ar é a maior em 800 mil anos;
- no pior cenário de emissões, a temperatura sobe 4,8 ºC até 2100;
- no mesmo cenário, nível do mar pode aumentar 82 cm até 2100;
- gelo do Ártico pode retroceder 94% até 2100 durante o verão;
Maior emissão de gases
Um dos dados apresentados pelo IPCC aponta que foi registrado um aumento de 43% na forçante radiativa entre 1985 e 2011.


A forçante radiativa é um índice que estima impactos climáticos causados pelo desequilíbrio entre as radiações solares absorvidas pela Terra e o calor devolvido pelo planeta à atmosfera, aquecendo-a. Essa troca de energia equilibrada garante uma temperatura global estável.
No entanto, uma maior emissão de gases e aerossóis pelo homem por conta de queimadas, desmatamento e queima de combustíveis fósseis (principalmente CO2) tem elevado a forçante e, consequentemente, retido uma maior quantidade de calor no planeta.
Segundo Paulo Artaxo, físico da Universidade de São Paulo e um dos coautores do capítulo divulgado, o aumento representa a elevação das concentrações de gases de efeito estufa “que continuam a subir rapidamente”.


Mares mais altos

De acordo com o IPCC, é muito provável que o nível do mar aumente no século 21 em todos os cenários de emissões estudados pelos cientistas. A elevação seria causada pelo aumento do degelo na região da Antártica e do Ártico.



No cenário mais brando, em que há corte de emissões e políticas climáticas, o nível do mar pode subir entre 26 centímetros e 55 centímetros até 2100. Já no pior cenário, com altas emissões de gases-estufa e não cumprimento de regras para a redução delas, o nível do mar aumentaria entre 45 centímetros e 82 centímetros.

O IPCC faz a previsão também de que 95% da totalidade do oceano tem probabilidade alta de aumentar o seu nível e que 70% das regiões costeiras do planeta sofrerão com o avanço do mar.
“É importante salientar que algumas regiões do globo podem ter aumento maior que este e outras regiões aumentos menores, pois este valor é uma média global”, afirma Artaxo.
Esperamos um grande impacto deste relatório nos formuladores de políticas"
José Marengo, pesquisador do Inpe e editor do relatório do IPCC
Credibilidade em xeque
Vazamento de e-mails com conversas entre autores, debatendo possíveis exageros presentes no relatório, ou até mesmo erros cometidos, como a conclusão de que as geleiras nas montanhas do Himalaia derretiam mais rápido do que as outras do mundo e "poderiam desaparecer até 2035, ou antes” – dado que o IPCC considerou um “lamentável erro” – levantou um debate sobre a credibilidade da instituição.


O fato alimentou a opinião de céticos em relação às mudanças climáticas. Mas, para cientistas brasileiros envolvidos na elaboração do documento e ouvidos pelo G1, foram problemas pontuais que não diminuíram a “confiabilidade científica” do painel.
"Houve uma mudança na forma de trabalhar, os capítulos foram enviados para revisão internacional. Esperamos um grande impacto deste relatório nos formuladores de políticas", afirma José Marengo, pesquisador do Centro de Ciência do Sistema Terrestre, ligado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
O pesquisador, que é um dos editores do capítulo divulgado, duvida que a confiabilidade científica do texto do IPCC tenha diminuído. "O fato de que há críticos por aí não significa que está errado ou cheio de problemas", disse.
“A credibilidade não é colocada em dúvida por causa de questões menores perto de milhares de aspectos acertados no relatório. Sempre é possível que pequenos deslizes ocorram em qualquer tipo de trabalho, mas isso não tira o brilho de uma extensa análise feita por milhares de cientistas”, afirmou Paulo Artaxo.
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O homem e o clima
As conclusões do novo relatório do IPCC sobre os eventos climáticos
Eventos climáticos
Já aconteceram mudanças?

O homem contribuiu para essas mudanças?
Probabilidade de que ocorram mais mudanças até o fim do século 21

Dias mais quentes ou menos dias frios na maioria das áreas terrestres
Muito provável

Muito provável
Praticamente certo

Aumento de ondas de calor
Média confiança

Provável

Muito Provável

Aumento de chuvas fortes
Provavelmente haverá mais áreas com aumento do que com diminuição. Muito provavelmente na América do Norte central

Média confiança*

Muito Provável

Aumento da intensidade ou duração das secas
Baixa confiança em escala global

Baixa confiança*

Provável (com média confiança)

Aumento na atividade de ciclones tropicais
Baixa confiança em mudanças de longo prazo*

Baixa confiança*

Mais provável que ocorra do que que não ocorra

Aumento do nível do mar
Provável

Provável*

Muito provável

* Expressa o nível de confiança dos cientistas, com base nas informações disponíveis e no grau de concordância entre os especialistas a respeito de cada tema



quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Especialista da ANP defende exploração de gás e petróleo no Acre

Por Tatiana Campos (Agência de Notícias do Acre)
A licitação para exploração de petróleo e gás no Acre vai respeitar as áreas de proteção ambiental (Foto: Arison Jardim/Secom)
A licitação para exploração de petróleo e gás no Acre vai respeitar as áreas de proteção ambiental (Foto: Arison Jardim/Secom)
O Acre não tem pedra, mas pode ter petróleo! É o que indicam os levantamentos feitos até agora pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), em parceria com o governo do estado. E os interessados em explorar essa nova atividade econômica devem ficar de olho na licitação que será aberta em novembro. Quem resolver investir pode ter o retorno financeiro a partir de seis meses.
As perfurações dos poços devem ser iniciadas dois anos após o término da licitação, que será realizada em novembro. Nesta primeira fase ainda há um risco, mas a expectativa é a melhor possível. “Estou extremamente otimista em relação ao Acre. O governador nos ajudou a implantar esse processo em 2006/2007 e a ANP já gastou mais de R$ 100 milhões em levantamentos de física, sísmica, geoquímica e todos os números indicam que o Acre tem óleo. E mais uma vantagem: o Acre é vizinho do Peru, que é um local que tem muito óleo”, disse Newton Reis, um dos maiores especialistas em petróleo no país, com 38 anos de experiência. Newton palestrou na manhã desta sexta-feira, 13, no auditório da Federação das Indústrias (Fieac) e tirou dúvidas de empresários e possíveis investidores na área.
Todos os estudos indicam a presença de petróleo nesta região e nós estamos muito otimistas. Isso é um novo tempo na economia do Acre, muitos empregos podem ser gerados
Governador Tião Viana
O governador Tião Viana é um entusiasta desta possibilidade e há anos tem dedicado esforços para viabilizar a possibilidade da exploração de petróleo no Acre. Em 1999 Tião Viana, então senador, destinou R$ 5 milhões em emendas para o Plano Plurianual para iniciar os investimentos em pesquisa na área. Hoje os investimentos já passaram de R$ 100 milhões – empregados no levantamento aerogravimétrico, geoquímico, sísmico, incluindo sísmica 3D.
“Todos os estudos indicam a presença de petróleo nesta região e nós estamos muito otimistas. Isso é um novo tempo na economia do Acre, muitos empregos podem ser gerados. Vejam que apenas na fase inicial dos estudos a empresa de sísmica instalada em Cruzeiro do Sul tinha 700 trabalhadores contratados. E o que precisa ser destacado é que o retorno dos investimentos pode começar em seis meses após a perfuração”, disse o governador Tião Viana.
Todos os ventos parecem soprar a favor do Acre. O estado é dez mil quilômetros maior que uma área na Bahia em que a ANP identificou 90 campos de petróleo. Também há a possibilidade de haver campos não identificados no Peru. O Acre tem uma bacia sedimentar de 100 mil quilômetros quadrados e nenhum poço perfurado. A bacia peruana tem a metade do tamanho da bacia do Acre e dezenas de poços perfurados. E o doutor Newton levanta um questionamento: “Se a bacia do Peru, que é ao lado do Acre, tem petróleo, será que não tem petróleo na bacia do Acre? Todos os estudos realizados até agora dizem que sim”.
A bacia acreana abrange os municípios de Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima, Porto Walter e Rodrigues Alves, no Acre, além de Guajará e Ipixuna, no Amazonas.
“São muitas as possibilidades que estão se abrindo com a garantia de que no dia 30 de novembro teremos licitação para a definição das empresas que vão perfurar para dimensionar a viabilidade da exploração de gás no Vale do Juruá. É uma forma de deixarmos de ser um importador de energias poluentes para exportar energia de gás, que é uma energia limpa. Isso tudo sem nenhuma ameaça para o meio ambiente porque o nosso cuidado é com o desenvolvimento sustentável”, disse o senador Aníbal Diniz, que também defende a atividade.
Oportunidade para o pequeno e médio empresário
Se viabilizar a exploração no Acre há a possibilidade de se pensar na instalação de uma pequena refinaria de diesel ou geração termoelétrica a partir do gás natural (Foto: Arison Jardim/Secom)
Se viabilizar a exploração no Acre há a possibilidade de se pensar na instalação de uma pequena refinaria de diesel ou geração termoelétrica a partir do gás natural (Foto: Arison Jardim/Secom)
Uma das dicas que Newton deixou para as pessoas que desejam investir na área é: procurem ter conhecimento sobre o assunto. “A fase inicial é uma fase que tem algum risco e a gente tem que trabalhar, talvez, de forma associada com alguma empresa de petróleo, a própria Petrobrás faz isso, e a partir da descoberta o empresário local pode fazer de forma direta porque o risco é bem menor. Se não quiserem propor associação com a Petrobrás podem procurar uma empresa menor, argentina ou peruana, por exemplo, que já estão instaladas no Peru, aqui ao lado”, disse Newton.
Se a bacia do Peru, que é ao lado do Acre, tem petróleo, será que não tem petróleo na bacia do Acre? Todos os estudos realizados até agora dizem que sim
Newton Reis
O governador Tião Viana estimulou a participação de pequenos e médios empresários no negócio. “Há um enorme potencial também para os pequenos e médios empresários participarem da atividade econômica do gás e do petróleo e em nada isso compromete o nosso respeito ao meio ambiente. Em mil metros quadrados podemos fazer dez perfurações de poços e um poço suja bem menos que um posto de lavagem de carro”, incentivou.
Carlos Sasai, presidente da Fieac, disse que o petróleo é um sonho que tem se tornado realidade. “Representa o esforço do governador, que já vem empreendendo esse ideal há algum tempo. É importante a participação dos empresários, pois esse é um grande potencial econômico e de desenvolvimento para o nosso estado. Milhares de empregos podem ser gerados a partir desta atividade”, disse.
A atividade de exploração de gás e petróleo tem duas fases principais. A primeira é exploratória, com risco e sem receita. Os estudos mostram que há possibilidade de petróleo e gás, mas não quer dizer o poço será perfurado no lugar adequado. Este é o risco. A segunda fase é a desenvolvimento e produção e já passa a oferecer lucro. A exploração do petróleo oferece um retorno de 35%, considerado altíssimo se comparado a outra atividades.