quinta-feira, 3 de julho de 2008

Os segredos que cercam os geoglifos encontrados no Acre

Anos após a descoberta pesquisadores ainda tentam desvendar o que estaria por trás das mensagens



Vistas do alto, as formas geométricas localizadas na fazenda Colorado e no sítio do seu Jacó, na estrada que leva a Boca do Acre (AM), não parecem feitas por seres humanos. Escavadas no solo, aparentemente em baixo relevo, elas formam quadrados - alguns incompletos - e quadrados com círculos internos. Olhadas do chão, essas figuras se assemelham a trincheiras.Seu Jacó Sá, de 84 anos, estava convicto de que as valas de mais de dois metros de profundidade que encontrou na sua propriedade se tratavam de trincheiras da Revolução Acreana, o movimento armado contra os bolivianos que em 1903 anexou o Acre ao Brasil. Mas segundo o arqueólogo do Departamento de Patrimônio Histórico e Cultural-FEM, Marcos Vinicius Neves, as formas foram feitas por índios que viveram na região entre 800 e 2.500 anos atrás.Ele e o paleontólogo Alceu Ranzi, da Ufac, tomaram as coordenadas de seis geoglifos usando um aparelho chamado GPS, que permite localizar no mapa a posição exata de cada um deles. Restos de cerâmica achados num dos três sítios arqueológicos da fazenda Colorado, também foram coletados para análise.As formas medem de 113 a 200 metros de diâmetro, e têm entre 30 centímetros a 4,5 metros de profundidade, incluindo-se o muro externo feito pela terra retirada das valetas. Essas formas foram encontradas em três locais diferentes e sua ocorrência está restrita ao Acre. As primeiras descobertas ocorreram em 1977, durante a realização do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas na Bacia Amazônica (Pro-napaba). E isso só foi possível porque a área em que elas se encontram foi desmatada.A datação feita pela Universidade Federal Fluminense de vestígios de cerâmicas encontradas no sítio Los Angeles, na fazenda Vaca Branca, no município de Xapuri (AC), revelou que no local viveu uma tribo indígena entre 800 e 2,5 mil anos atrás. Por trás das descobertas há muitas hipóteses, e uma delas é que esses índios tenham emigrado para o Acre da região boliviana de Llanos de Mojos. "O professor Ondemar Dias, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, comparou essa peça com a cerâmica dos nativos de Llanos de Mojos e encontrou muitas semelhanças entre elas", explica Marcos Vinicius.Todas as informações disponíveis até agora, porém, não são suficientes para determinar a função dos geoglifos. Eles podem ter sido construídos para defender os habitantes das tribos rivais. Ou para acumular todo o húmus usado na agricultura. Ou eram representações míticas com as quais os índios acreditavam se comunicar com os deuses.Seja qual for a utilidade que os geoglifos tiveram, impressionam a perfeição das formas e a quantidade de pessoas que se mobilizaram para desmatar a floresta e escavar a terra. "Se hoje um trator levaria tempo considerável para fazer esse trabalho, imagine-se naquela época que sequer havia instrumentos de metal", diz Alceu Ranzi. "Talvez essas obras tenham levado muitos anos para ficar prontas", arrisca Marcos. A inexistência de respostas definitivas para o enigma dos geoglifos não suscita nos pesquisadores, porém, conclusões fantásticas. Eles se recusam, por exemplo, a falar de extraterrestres como fez o cientista alemão Von Daniken em seu livro A resposta dos Deuses. Na obra, Daniken afirma que as "Linhas de Nazca", importante legado das antigas culturas pré-incas peruanas, se tratavam de sinais e pistas de aterrissagem para naves extraterrestres.Ranzi tem se encarregado de divulgar o máximo possível os geoglifos. Por conta desse esforço, a revista Isto É dedicou três páginas ao assunto, e as fotos e informações foram colocadas na Internet.Na semana de fechamento de outraspalavras, um pesquisador norte-americano tinha agendado sua vinda ao Acre atraído pela reportagem de Isto É. Marcos e Ranzi acreditam na possibilidade dos sítios se tornarem uma atração turística, a exemplo do que aconteceu com as Linhas de Nazca. E a divulgação desses achados, segundo eles, seria fundamental para que isso acontecesse.Mas, por enquanto, ambos torcem para que os geoglifos chamem a atenção de cientistas no mundo todo. Pois só com muita pesquisa e tecnologia será possível saber exatamente por quem e para quê eles foram construídos.

Um comentário:

LiPєFoяd™ - Felipe Araújo disse...

Realmente é muito mistério.
acredito que os geoglifos nao foram feitos por nós, seres humanos.