quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Ribeirinhos encontram dificuldades para escoar produção pelo rio Acre


Tão difícil quanto vender o produto no porto do Mercado Novo, em Rio Branco, é conseguir navegar com a produção -, diz o colono Raimundo Fé em Deus. Uma vez por semana o produtor faz o percurso Porto Acre-Rio Branco num batelão de sua propriedade levando mais de cinco toneladas de produtos da região como banana, melancia e melão. São 12 horas de viagem. Tempo que poderia ser reduzido pela metade se não fosse o baixo nível das águas do rio Acre. - Em alguns trechos, como a da cachoeira do Catuaba, temos de desembarcar o produto para poder seguir viagem e mais a frente embarcar tudo novamente -, acrescentou Fé em Deus. Ele também compra a produção de muitos ribeirinhos que vivem às margens do rio. Durante os períodos de estiagem, quando o nível das águas é de pouco mais de um metro e meio, os desafios aumentam. A grande quantidade de ganhos de árvore e bancos de areia no leito do manancial favorece o risco de acidente. Qualquer vacilo o batelão pode parar no fundo do rio. Sem opções de transporte terrestre, já que na localidade onde seu Raimundo vive, o ramal está em péssimo estado e o preço do frete cobrado encarece ainda mais o produto. O jeito é se arriscar num rio cheio de curvas e armadilhas.

Venda e desvalorização do produto para o atravessador


Ao desembarcar no porto do Mercado Novo, no bairro Cadeia Velha, o ribeirinho tem outro desafio ainda maior: vender o produto. Como dificilmente o cliente vai até o batelão devido à falta de estrutura do local, a única opção do colono é vender seu produto (a preço de banana) ao atravessador, que compra uma melancia por R$ 1,50 e revende ao cliente por cerca de R$ 10. Um lucro oito vezes maior. Tal prática vem desestimulando os ribeirinhos, que muitas vezes voltam para casa sem nem mesmo cobrir os custos com o transporte.
A prefeitura de Rio Branco reconhece o problema e promete solucioná-lo com a construção do Ceasa. A obra segue em ritmo acelerado, próximo à terceira Ponte. Segundo o secretário de Agricultura do Município, Mário Jorge Fadel, com a inauguração do Ceasa, em meados de 2009, a figura do atravessador será eliminada.
- Com o Ceasa, o colono vai poder comercializar seu produto tanto no atacado quanto no varejo. O consumidor também terá acesso livre ao local. A venda e o lucro serão garantidos -, afirma o secretário.

Geógrafo alerta para o risco de catástrofe ambiental
Assim como nosso personagem, a maioria dos ribeirinhos que vivem às margens do rio Acre, ao longo dos seus 6 mil quilômetros de extensão, desde Assis Brasil até a foz em Boca do Acre, no Amazonas, vem sofrendo com o assoreamento e a poluição do leito do manancial. O geógrafo Claudemir Mesquita, da secretaria Municipal de Meio Ambiente, faz uma previsão sombria sobre o futuro do rio Acre.
- Precisamos parar de agredir o rio Acre. A poluição ambiental, o desmatamento e a pecuária estão fazem desaparecer o mais importante rio da nossa vida. O poder público precisa tomar uma providência urgente para impedir a destruição das nascentes do rio. Se todos nos mobilizarmos ainda há tempo para salvar o manancial -, disse Claudemir Mesquita.
Há anos estudando a seqüência de tragédias ambientais envolvendo o rio Acre, como enchentes e secas cada vez mais severas, o pesquisador faz uma afirmação contundente.
- Se continuarmos nesse ritmo de devastação ambiental os nossos filhos e netos, ou seja, as próximas gerações, não terão oportunidade de tomar banho nesse rio. Estamos matando, todos os dias, a fonte que sacia a nossa cede. Eu me arrisco em afirmar que a ausência de água potável no planeta será o estopim para o início da terceira guerra mundial -, concluiu.

Aqüífero do Segundo Distrito pode ser a salvação
Caso uma tragédia se abatesse sobre a capital acreana e o baixo nível do rio Acre levasse a um colapso no abastecimento de água de Rio Branco, o aqüífero do Segundo Distrito seria a única fonte de captação de água potável da capital. Um estudo realiza pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semeia) descobriu que o aqüífero tem potencial para abastecer uma cidade com até 500 mil habitantes. Portanto, quase o dobro da capital do Acre que é de 300 mil pessoas. Mas ainda falta um projeto e investimento do poder público para a exploração sustentável dessa verdadeira mina de ouro escondida no subsolo da capital. Por enquanto, hoje apenas as empresas de água mineral lucram com a exploração descontrolada do aqüífero.

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