Foto de arquivo da tribo ianomâmi feita por organização de direitos dos indígenas (Foto: ONG Survival International)
A Fundação Nacional do Índio (Funai) está investigando a denúncia de
massacre de indígenas ianomâmi por garimpeiros em uma aldeia na
fronteira entre o Brasil e a Venezuela. Uma equipe de técnicos da
instituição está em contato com grupos indígenas na região via rádio
para buscar informações.
O local onde ocorreu o massacre, a aldeia Irotatheri, é de difícil
acesso e fica em território venezuelano, segundo a Funai. Para chegar
até o local do massacre são necessários "de quatro a dez dias" de
caminhada do ponto onde os técnicos estão, diz a assessoria da fundação.
Segundo relatos de três sobreviventes a organizações defensoras dos
indígenas, o massacre teria ocorrido após tentativa de garimpeiros
brasileiros de estuprar mulheres ianomâmi. Até 80 indígenas (número de
membros da aldeia Irotatheri) podem ter sido mortos pelos garimpeiros,
de acordo com a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia
(Coiam).
No Brasil
Outros ianomâmi que dizem ter escapado da
chacina foram encontrados no Brasil, segundo informações do Instituto
Socioambiental (ISA). Até então, os sobreviventes haviam sido achados na
Venezuela. Os indígenas chegaram feridos à aldeia Onkiola, segundo o
instituto. A vila fica na região de Auaris, no extremo noroeste de
Roraima, distante 450 km da capital, Boa Vista.
Os garimpeiros teriam usado armas de fogo e explosivos contra a aldeia,
segundo relatos dados pelos sobreviventes às ONGs. Para Marcos Wesley
de Oliveira, coordenador do Programa Rio Negro, do ISA, e especialista
na etnia ianomâmi, o Brasil e a Venezuela deveriam somar forças na
investigação.
"Como são garimpeiros brasileiros em território venezuelano, trabalhar
em cooperação é a melhor solução para todos, para elucidar o caso", diz
Oliveira. Ele ressalta que os dois países "já tem vários acordos de
cooperação, inclusive para vigilância e proteção de fronteira".
O especialista considera que o Brasil "não poderia e nem vai" se eximir
de investigar um caso como este, até pelo histórico de apuração de
outro massacre contra ianomâmis, ocorrido na década de 1990, em Haximu,
também em Roraima.
O Ministério da Justiça não se
posicionou sobre o caso. O Ministério Público Federal em Roraima, estado
mais próximo à fronteira com a Venezuela, onde teria ocorrido o
massacre, afirmou que os garimpeiros podem ser processados e até presos
caso tenham entrado no Brasil.
A Polícia Federal deve
emitir nota oficial. Segundo apurou a
equipe de reportagem, o procedimento-padrão da força policial, neste
caso, é aguardar que as autoridades venezuelanas procurem o Itamaraty,
que então aciona o Ministério da Justiça e a PF para realizar
investigação. O MPF em Roraima aguarda procedimento similar - um contato
das autoridades da Venezuela com o Itamaraty para que haja investigação
judicial.
Venezuela
A Promotoria Geral da Venezuela indicou uma comissão para investigar o suposto ataque, que teria sido cometido em julho, mas cujos detalhes só vieram à tona nos últimos dias.
A Promotoria Geral da Venezuela indicou uma comissão para investigar o suposto ataque, que teria sido cometido em julho, mas cujos detalhes só vieram à tona nos últimos dias.
De acordo com a ONG Survival International, os índios, que teriam
encontrado os corpos carbonizados das supostas vítimas do massacre, só
conseguiram reportar a ação muito tempo após ela ter sido cometida, já
que os ianomâmi vivem em uma região isolada e as testemunhas levaram
dias para chegar a pé até o povoamento mais próximo.
O massacre teria ocorrido no dia 5 de julho. A denúncia foi apresentada
na Promotoria-Geral e a Defensoria Popular, em Puerto Ayachucho, na
Venezuela, e também perante a 52ª Brigada de Guarnição Militar, que
registrou os depoimentos.
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