Um estudo realizado em conjunto por pesquisadores brasileiros e
americanos aponta que a destruição da floresta amazônica e sua
transformação em pasto reduz a diversidade das comunidades de bactérias
no solo, o que pode trazer impactos ambientais negativos.
A pesquisa foi publicada no fim de dezembro pelo prestigiado periódico
"Proceedings of the National Academy of Sciences". Entre as instituições
responsáveis pelo levantamento estão a Universidade de São Paulo (USP),
a Embrapa e o Centro de Energia Nuclear na Agricultura, além da
Universidade do Texas, em Arlington, a Universidade do Oregon e a
Universidade de Massachusetts, as três nos EUA.
Região da Amazônia devastada para criação de pasto, no Mato Grosso (Foto: Werner Rudhart/Arquivo/AFP)
Assim como as espécies de animais e plantas, as bactérias reagem ao
desmatamento, mas de maneira diferente, apontam os pesquisadores. Em um
primeiro momento ocorre um aumento no número de espécies, mas as
comunidades microbianas se tornam mais semelhantes ao longo da área
devastada.
Essa "homogeneização", como é chamado o efeito, ocorre pela perda de
micro-organismos endêmicos da floresta, entre outros fatores.
Vivian Pellizari, Professora da USP e uma das autoras da pesquisa, diz
que o "crescimento taxonômico" das bactérias, isto é, o aumento no
número de espécies, vem junto com uma "perda funcional", ou seja, uma
redução nas espécies nativas, que atuam, por exemplo, nos ciclos de
nutrientes do solo e na reciclagem de matéria orgânica.
"O número das espécies no solo de pastagem encontrado foi até maior,
mas as espécies são menos relacionadas umas às outras do que na
floresta", diz a professora. "A combinação da perda das espécies que
havia inicialmente na mata e a homogeneização é um sinal que o sistema
pode perder a capacidade de lidar com o estresse ambiental".
Um dos exemplos são as acidobactérias, que representam 21% do total de
micro-organismos encontrados pelos cientistas na floresta. Em áreas de
pasto, o grupo foi reduzido e passou a representar 13,4% da vida
microbiótica no solo.
Região de mata devastada no município de Lábrea,
no AM (Foto: Greenpeace / Marizilda Cruppe)
no AM (Foto: Greenpeace / Marizilda Cruppe)
Efeitos desconhecidos
Vivian diz que os efeitos da redução da biodiversidade microbiana ainda são desconhecidos. Eles vão ser levantados em uma nova pesquisa, a ser publicada em breve pelo grupo de cientistas.
Vivian diz que os efeitos da redução da biodiversidade microbiana ainda são desconhecidos. Eles vão ser levantados em uma nova pesquisa, a ser publicada em breve pelo grupo de cientistas.
Algumas hipóteses, afirma a professora, são alterações nos ciclos de
nutrientes, como o ciclo do carbono e o do nitrogênio. Pode haver
empobrecimento do solo e reflexos negativos no ecossistema. "Pode ser
prejudicial até para o plantio e para a agricultura. A gente não sabe
muito bem [os efeitos], ainda precisa ser estudado", avalia.
As comunidades de bactérias são essenciais para a manutenção da
floresta, avalia Vivian. "Os ciclos relacionados à saúde do solo têm
nos micro-organismos os atores principais, para a conversão de
substratos e manutenção do equilíbrio".
Seis brasileiros
No total, 13 cientistas participaram da pesquisa, sendo seis deles brasileiros. As amostras foram coletadas de uma fazenda de Rondônia. É a primeira vez que são levantados dados sobre a vida microbiana na Amazônia em uma escala maior, ressalta a professora. Antes, apenas estudos com amostras limitadas haviam sido realizados.
No total, 13 cientistas participaram da pesquisa, sendo seis deles brasileiros. As amostras foram coletadas de uma fazenda de Rondônia. É a primeira vez que são levantados dados sobre a vida microbiana na Amazônia em uma escala maior, ressalta a professora. Antes, apenas estudos com amostras limitadas haviam sido realizados.
Vivian aponta que a recuperação da floresta em áreas de pastagem pode
trazer de volta a diversidade microbiana, mas ressalta a necessidade de
mais pesquisas sobre o tema. "Os resultados têm mostrado que a parte
funcional tem essa tendência de retornar com a floresta secundária,
quando a floresta é recuperada", pondera.
Nenhum comentário:
Postar um comentário