quarta-feira, 27 de março de 2013

Cheia do rio Acre já atinge mais de 200 famílias



O rio Acre continua subindo. A medição realizada às 12 horas desta quarta-feira, 27, pela Defesa Civil o nível estava 15.23m de profundidade, cerca de 210 famílias em Rio Branco tiveram de deixar suas residências e estão abrigadas em alojamentos no Parque de Exposições Marechal Castelo Branco. Governo do Estado e Prefeitura de Rio Branco garantem a alimentação, saúde e assistência social. 

Pelo menos seis bairros da parte baixa da capital Rio Branco foram tomados pelas águas. Entre eles Seis de Agosto, Taquari, Baixada da Habitasa, Base, Ayrton Sena e Cidade Nova. Como a previsão é mais chuva para os próximos dias, o coordenador da Defesa Civil de Rio Branco, Coronel George, acredita que o rio Acre mantenha a tendência de cheia."Os afluentes estão com os níveis acima do normal e isso contribui para a elevação do nível do rio Acre", disse.

terça-feira, 5 de março de 2013

Cerca de 3 mil grandes macacos são vítimas de caça a cada ano, diz ONU

Cerca de 3 mil grandes macacos morrem ou são capturados a cada ano devido ao comércio ilegal, segundo um relatório da ONU publicado nesta terça-feira (5).
Entre 2005 e 2011 estima-se que mais de 20 mil exemplares de grandes macacos foram vítimas da caça ilegal, segundo o estudo elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), que supervisiona um programa específico de conservação conhecido como Grasp.
"Este comércio está florescendo, e é extremamente perigoso para a sobrevivência no longo prazo dos grandes macacos", disse o coordenador do Grasp, Doug Cress, que descreveu este negócio ilegal como "sofisticado, engenhoso, bem financiado e bem armado".
"Nesse ritmo, os macacos desaparecerão muito rápido", disse Cress.
Uma fêmea de gorila-da-montanha com seu filhote. População de primatas desta espécie aumentou, aponta censo (Foto: Divulgação/Martin Harvey/WWF)Fêmea de gorila-da-montanha com seu filhote. (Foto: Divulgação/Martin Harvey/WWF)
Além disso, advertiu, a captura de um só chimpanzé envolve, às vezes, matar outros dez.
"Não pode se meter na selva e pegar só um. Tem que brigar. Tem que matar os outros chimpanzés do grupo", disse Cress à imprensa, durante a conferência da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies Ameaçadas (Cites) sobre espécies em perigo realizada em Bangcoc.
O comércio internacional de chimpanzés, bonobos e gorilas, as três espécies de grandes símios africanos, assim como de orangotangos, a única espécie asiática, está proibido em virtude da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas (CITES), cujos países membros estão reunidos nesta semana na capital tailandesa.
Segundo o relatório, muitos destes macacos são vendidos como animais domésticos a compradores ricos, que os veem como um símbolo de poder, ou são adquiridos por zoológicos de reputação duvidosa e explorados pela indústria do turismo ou do entretenimento.
Fonte: AFP

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Interpol lança campanha global contra a pesca ilegal

A Interpol lançou nesta terça-feira (26) uma operação contra a pesca ilegal, um negócio que arrecada até US$ 23 bilhões (R$ 45,6 bilhões) por ano, na estimativa da agência. Ainda de acordo com a polícia internacional, o crime geralmente é cometido por pescadores que atuam longe de seus países de origem, o que aumenta a necessidade da colaboração entre os países.

“Estoques mundiais de peixe estão diminuindo rapidamente, e muitas espécies valiosas já estão próximas da extinção”, afirmou a Interpol em nota divulgada nesta terça. “A última década viu um aumento nas redes criminosas organizadas e transnacionais envolvidas em crimes de pesca”, completou o texto.

Navio da guarda costeira do Japão persegue barco de pesca ilegal na costa do país, em imagem do início de fevereiro (Foto: Reuters/11th Regional Coast Guard Headquarters-Japan Coast Guard/Divulgação) 
Navio da guarda costeira do Japão persegue barco de pesca ilegal na costa do país, em imagem do início de fevereiro (Foto: Reuters/11th Regional Coast Guard Headquarters-Japan Coast Guard/Divulgação)
 
A organização ambiental The Pew Charitable Trusts calcula que até um quinto de toda a pesca feita no mundo seja ilegal. Além disso, ela aponta que as novas tecnologias aumentam a capacidade dos barcos ilegais, tanto para permanecer mais tempo no mar quanto para pescar mais fundo. Outros pontos ressaltados pelos ecologistas são a poluição dos oceanos e o aquecimento global, que também ameaçam as populações de peixes.

Postos de venda
Para David Higgins, chefe do Programa de Crimes Ambientais da Interpol, a operação que vai do Pacífico Sul até o Oceano Ártico precisa ter atenção não só com quem pesca, mas também com quem revende o produto ilegal. “O supermercado consegue comprovar de onde vem o peixe?”, questionou.

Um estudo divulgado na semana passada pelo grupo de conservação marinha Oceania feito com mais de 1,2 mil produtos em 700 pontos de venda nos EUA mostrou que a identificação dos peixes nos rótulos estava errada em um terço dos casos.

Para a Interpol, a ação pode, inclusive, prevenir que aconteça com peixes e frutos do mar um escândalo de falsificação semelhante ao da carne de cavalo, recentemente encontrada em produtos industrializados que diziam conter carne bovina na Europa.

Com informações da Reuters

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Cientistas apontam turismo como ameaça à biodiversidade na Antártica

Cientistas que estudam a fauna e flora existentes na Antártica afirmam que a ida de turistas para o continente já é considerada uma ameaça à biodiversidade local.

O risco de transportar vegetação exótica para o solo antártico ou ainda de transmitir doenças para espécies de aves e mamíferos se tornou foco de estudo de pesquisadores brasileiros.

Uma expedição da Marinha que integra a 31ª edição da Operação Antártica (Operantar), se concentra neste ano na remoção dos destroços da Estação Antártica Comandante Ferraz, destruída por um incêndio em fevereiro de 2012 que matou duas pessoas.

O continente é lar de aves, como pinguins e skuas, além de mamíferos como focas e leões-marinhos. Apesar de distante, há roteiros turísticos que atraem milhares de visitantes todos os anos para a região, que chegam de aeronave ou em cruzeiros, saindo principalmente de Punta Arenas, no Chile.

De acordo com a Associação Internacional das Operadoras de Turismo da Antártica (IAATO, na sigla em inglês), nas quatro últimas temporadas abertas a visitantes (durante o verão no Hemisfério Sul), mais de 135 mil pessoas seguiram para a região. A estimativa do órgão para a temporada 2012-2013 é que mais 34.950 pessoas de diversas partes do planeta sigam para lá em busca dos atrativos antárticos.
Exemplar de pinguim-papua é visto na Baía do Almirantado, região onde está abrigada a Estação Antártica Comandante Ferraz (Foto: Eduardo Carvalho/G1)Exemplar de pinguim-papua é visto na Baía do Almirantado, região onde está abrigada a Estação Antártica Comandante Ferraz (Foto: Eduardo Carvalho/G1)
 
Pinguins com vírus da gripe
No entanto, para os cientistas, quanto mais pessoas na região, maior o risco para a fauna e a flora que conseguem viver em temperaturas abaixo de zero. “O que mais me assusta é o chamado ecoturismo. O pessoal vai às pinguineiras (local que abriga colônias de pinguins) e caminha por lá sem cuidados. Ali é um ambiente frágil e qualquer coisa que seja introduzida é arriscado”, disse Edison Luiz Durigon, professor do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo.

Ele é responsável pela pesquisa que encontrou o vírus da gripe em pinguins e aves migratórias nativas da Antártica. Entre 2007 e 2008, foi constatado que seis pinguins que vivem em uma colônia que tem uma população de 6 mil aves tinham incubados o vírus Influenza. Esses exemplares foram encontrados em uma pinguineira próxima ao refúgio Copacabana, que pertence aos Estados Unidos e está próximo da estação brasileira.

Mais distante dali, na Ilha Elefante, onde o Brasil mantém um refúgio utilizado por pesquisadores, o Influenza também foi detectado em um exemplar de petrel, ave migratória encontrada em grande quantidade na borda do Polo Sul. De acordo com o especialista, é provável que a gripe tenha sido transmitida devido ao contágio por humanos.

Exemplar de Skua, ave que é chamada de urubu da Antártica e faz parte da biodiversidade do continente gelado (Foto: Eduardo Carvalho/G1)Exemplar de skua, ave que é chamada de urubu da Antártica e faz parte da biodiversidade do continente gelado (Foto: Eduardo Carvalho/G1)
 
“Há bastante tempo que o homem vem degradando a região. O fato de achar o Influenza por lá não foi grande novidade. No entanto, todos os animais são suscetíveis ao vírus. Se você levar a doença, é possível causar uma infecção geral na colônia. Mesmo que não cause a morte, o vírus permanece naquela área para sempre”, explica o pesquisador.

A cepa da doença deverá ser descrita em março com a ajuda da Universidade de Memphis, nos Estados Unidos, graças ao sequenciamento genético de amostras de sangue
.
Durigon afirma ainda que uma solução para evitar o risco de epidemia é obrigar os visitantes a tomar vacina contra a gripe antes de embarcar em navios ou aeronaves em direção à Antártica. “Funcionaria como já acontece com quem vai viajar para a Amazônia, por exemplo, e é obrigado a tomar vacina contra a febre amarela. Os indivíduos teriam que mostrar a carteira de vacinação”, disse Durigon.
 
Vegetação exótica
Outro grupo de pesquisadores do Rio Grande do Sul, liderados por Jair Putzke, da Universidade Federal de Santa Cruz do Sul, aponta para o risco de turistas levarem para a Antártica nos calçados sementes e resquícios de vegetação de diferentes partes do mundo.

Ele afirma que na Península Antártica já é possível encontrar espécies consideradas exóticas, ou seja, que são de fora da região, que ameaçam os poucos vegetais que conseguem sobreviver ao frio extremo.
A região é a que mais sofre as consequências das mudanças climáticas. Segundo pesquisas científicas, ali há registro de aumento de 3º C nos últimos 55 anos.

No restante da costa da Antártica, o crescimento máximo registrado foi de 2º C. Por conta disso, há observações de retrações de geleiras e de migração de aves e plantas para o sul da península antártica, de acordo com pesquisadores brasileros.

Fonte: Globo Natureza

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Estudo revela diminuição da água nos rios Tigre e Eufrates

Satélites americanos detectaram uma grande diminuição das reservas de água nos rios Tigre e Eufrates em um período de sete anos, a partir de 2003, segundo um novo estudo.

Os leitos desses rios, cujas águas irrigam parte do Iraque, do Irã, da Turquia e da Síria, perderam o equivalente a um Mar Morto.

"É uma quantidade de água suficiente para satisfazer as necessidades de milhares de pessoas na região a cada ano, dependendo das regras de uso regional e a disponibilidade", afirmou Jay Famiglietti, diretor da investigação.

O estudo publicado na revista Water Resources Research, foi realizado por cientistas da Universidade da Califórnia, do Centro de Voos Espaciais Goddard, da Nasa (Agência Espacial Norte-Americana), e do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas.

Ele se baseia nos dados recolhidos durante um período de sete anos pelos satélites GRACE, da Nasa, que vigiam as mudanças globais nas reservas de água.

De acordo com as variações nas reservas de água em uma determinada região, os satélites medem a gravidade das transformações e seus impactos.

"Os dados dos [satélites] GRACE mostram um índice alarmante de queda no armazenamento total de água no Tigre e Eufrates, que atualmente possuem a segunda taxa de perda mais rápida de águas subterrâneas da Terra, depois da Índia", indicou Famiglietti.

Parte desta diminuição foi atribuída à seca de 2007 e os acumulos de neve, e ainda pela perda de água da superfície dos lagos.

Mas 60% da diminuição da água foi resultado do bombeamento de água subterrânea. Neste sentido, Famiglietti destacou o Iraque, que perfurou mil novos poços em resposta à seca de 2007.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Amazônia terá torre científica de 320 metros

Uma torre de 320 metros de altura para pesquisas científicas deve ser instalada na Amazônia em dezembro deste ano pelo coordenador brasileiro do projeto, Antonio Ocimar Manzi, pesquisador do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia).

Batizado de Observatório Amazônico com Torre Alta (ATTO, na sigla em inglês), o projeto é uma cooperação entre os governos do Brasil e da Alemanha, e terá investimento inicial de R$ 22 milhões, diz o dirigente. Dessa verba, R$ 10 milhões virão do Ministério da Ciência e Tecnologia brasileiro, R$ 10 milhões do governo alemão e R$ 2 milhões do governo do estado do Amazonas.

Torre usada para pesquisas científicas na Amazônia; nova estrutura terá 320 metros, maior do que a Torre Eiffel, na França (Foto: Divulgação/ATTO)Torre usada para pesquisas científicas na Amazônia; nova estrutura de ser parecida e vai ter 320 metros de altura, maior do que a Torre Eiffel, na França (Foto: Divulgação/ATTO)

"É um projeto de longo prazo para o monitoramento da Amazônia", ressalta Manzi. A logística de preparação do programa é complexa, e o prazo será mantido se não ocorrerem atrasos, diz o professor de física atmosférica da USP, Paulo Artaxo, que também participa do ATTO.
 
Torre Eiffel
A estrutura vai ser ligeiramente mais alta que a Torre Eiffel, símbolo de Paris, na França, diz o professor da USP. Ele ressalta, no entanto, que as duas torres têm finalidades muito distintas. A que vai ser montada na Amazônia ajudará a estudar a composição química da atmosfera sobre a floresta, principalmente sobre os níveis de CO2, além de elementos como nitrogênio e fósforo, ressalta Manzi.

Algumas linhas de pesquisa vão envolver também a formação de nuvens e o regime de chuvas na Amazônia; a troca de matéria e energia entre a biosfera e a atmosfera na área da floresta; estudos sobre ecologia, como a vegetação da mata, os nutrientes e composição do solo, entre outros temas.

Além da torre de 320 metros, serão construídas quatro torres auxiliares, em formato de cruz, a cerca de 100 metros de distância da estrutura principal. Elas terão 80 metros de altura, de acordo com Artaxo.
 
Quanto mais alto, melhor
Já existem outras torres de pesquisa construídas na Amazônia, com tamanhos menores - de 65 a 85 metros de altura, aproximadamente. Uma delas tem 82 metros e está gerando dados científicos desde janeiro do ano passado, segundo o coordenador do ATTO. "Quanto mais alto medirmos, mais a gente vai saber o que o vento está trazendo. Virão contribuições [em termos de dados sobre a atmosfera, por exemplo] de distâncias maiores", diz Manzi.

Torre de 82 metros na Amazônia que está gerando dados científicos desde janeiro de 2012, segundo Manzi (Foto: Divulgação/ATTO) 
Torre de 82 metros na Amazônia que está gerando
dados científicos desde janeiro de 2012, segundo
Manzi (Foto: Divulgação/ATTO)
 
Artaxo pondera que o "footprint" da torre de 320 metros, isto é, a capacidade de medir dados originários de longas distâncias, vai ser de cerca de 1.000 km, dependendo da velocidade do vento.
 
Pelo menos 30 anos
As torres do ATTO estão sendo instaladas em uma área da floresta amazônica a 150 km a nordeste de Manaus, seguindo uma linha reta, diz o coordenador do programa. "Este é um projeto de pelo menos 30 anos de duração", afirma ele.

Na avaliação de Manzi, a torre é uma das maiores do mundo entre as construídas especificamente para fins científicos.

Um programa similar ao ATTO, com objetivo de fazer monitoramento meteorológico, está sendo realizado na Sibéria já há alguns anos - uma torre de 300 metros de altura foi instalada na região do pequeno povoado de Zotino, que fica a cerca de 3 mil km da capital da Rússia, Moscou, também em parceria com a Alemanha.

Mas o projeto brasileiro, do ponto de vista científico, "vai ser mais completo", diz Manzi. Ele considera que o ATTO vai se tornar referência mundial em pesquisas sobre florestas tropicais, já que não há programa igual sendo executado neste tipo de ecossistema.
Torre de monitoramento meteorológico instalada na Sibéria (Foto: Divulgação/ATTO)Torre de monitoramento meteorológico instalada na Sibéria (Foto: Divulgação/ATTO)
Fonte: g1.globo.com/natureza

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Efeito climático pode ter matado 17% mais árvores na Amazônia, diz estudo


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Amazônia mostra sinais de degradação devido a mudanças climáticas (Foto: Divulgação/NASA/JPL-Caltech)Imagem da Nasa mostra que efeitos de seca ocorrida na Amazônia em 2005 atingem árvores ainda hoje (Foto: Divulgação/NASA/JPL-Caltech)
Um estudo realizado em conjunto entre pesquisadores brasileiros e estrangeiros aponta que o número de árvores mortas na Amazônia por conta de tempestades, secas e outros fenômenos climáticos é subestimado em análises tradicionais, podendo ser de 9% a até 17% maior do que o previsto anteriormente.
A mortalidade destas árvores tem sido ignorada porque as análises comuns se baseiam apenas em trabalho de campo e em inventários florestais, disse  o pesquisador Niro Higuchi, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), coordenador do grupo brasileiro que participou do estudo.
A pesquisa foi publicada nesta semana no site da renomada revista "Proceedings of the National Academy of Sciences", mantida pela Academia Americana de Ciências. Além do Inpa, também participaram cientistas da Universidade da Califórnia, da Universidade Tulane e do Laboratório Nacional de Berkeley, todos nos EUA, além de pesquisadores do Instituto Max Planck para Biogeoquímica, na Alemanha.
Para dar uma ideia da força que eventos meteorológicos têm sobre a Amazônia, Higuchi citou como exemplo uma grande tempestade ocorrida na floresta, em janeiro de 2005, que destruiu mais de 500 milhões de árvores segundo suas contas. O fenômeno teve rajadas de vento de até 140 km/h.
Imagem de arquivo mostra Rio Branco, na Amazônia, em um de seus momentos mais críticos de seca. Evento foi atribuído por cientistas a efeitos do El Niño (Foto: Marie Hippenmeyer/Arquivo AFP)Imagem de arquivo mostra Rio Branco, na Amazônia, em um de seus momentos mais críticos de seca. Evento foi atribuído por cientistas a efeitos do El Niño (Foto: Marie Hippenmeyer/Arquivo AFP)
Nova ferramenta
Para fazer uma avaliação mais precisa do número de árvores destruídas por fenômenos climáticos e de sua contabilização nas emissões de CO2 pela floresta, os cientistas desenvolveram uma nova ferramenta que combina imagens de satélite da Amazônia e levantamentos "in loco".
Batizado de Trecos ("Tropical Tree Ecosystem and Community Simulator", no nome em inglês), o modelo foi preparado com imagens de satélite de uma série histórica com mais de 20 anos.
"Medir os efeitos do desmatamento é relativamente fácil, hoje em dia há vários métodos em campo e boa cobertura de satélite. Mas fenômenos como chuvas, tempestades e seca não seguem um padrão, são espalhados por toda a Amazônia. Há muita dificuldade de se chegar em certas áreas da floresta", afirma Higuchi.
Imagem de arquivo mostra tempestade tropical se formando sobre o Rio Negro, em 2011 (Foto: Evaristo Sá/Arquivo AFP)Imagem de arquivo mostra tempestade se formando sobre o Rio Negro (Foto: Evaristo Sá/Arquivo AFP)
Vítima do clima
A Amazônia vai ser cada vez mais vítima de efeitos agravados das mudanças climáticas, como secas prolongadas, diz o pesquisador brasileiro. No sul do Pará, principalmente, estiagens costumam ser extensas. "Há regiões que passam três, quatro meses sem uma gota de água", diz Higuchi.
Ele pondera que fenômenos como o El Niño estão afetando a Amazônia de maneira cada vez mais irregular. "Fenômenos climáticos, como secas e tempestades, estão ficando mais intensos, não só na floresta, como no Brasil e no mundo todo", afirma o pesquisador.
Ele demonstra preocupação com as emissões de CO2 que decorrem das árvores mortas por efeito do clima e que não são medidas de forma correta no Brasil. Para o pesquisador, este número também está subestimado. "Pode até dobrar o valor das nossas emissões de gás carbônico, por conta do que não está sendo medido", comenta.
Higuchi considera que a Amazônia precisa se preparar para possíveis mudanças no ambiente, efeitos do aquecimento global e outros fenômenos. Para ele, é preciso "dimensionar as vulnerabilidades da região".

sábado, 26 de janeiro de 2013

Governo fará novo inventário sobre florestas


Mariana OliveiraDo G1, em Brasília

Ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira (Foto: Mariana Olveira/G1)Ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira
(Foto: Mariana Olveira/G1)
Após 30 anos, o governo brasileiro anunciou nesta quinta-feira (24) que fará um novo inventário sobre a situação das florestas do país. O último estudo foi divulgado em 1983, com dados levantados no fim da década de 70, não abrangeu todo país e focou apenas na quantidade de madeira disponível.
O levantamento atual, que foi iniciado em Santa Catarina e no Distrito Federal em 2011 para testes, começa a ser feito a partir deste ano na floresta amazônica e no restante do país.
A previsão é obter informações sobre tipos de árvores existentes, qualidade dos solos, áreas degradadas e estoque de biomassa. A previsão é de conclusão em 2016.

O custo total do novo inventário é estimado em R$ 150 milhões, dos quais R$ 65 milhões serão liberados do Fundo Amazônia, administrado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O contrato com o BNDES foi assinado nesta quinta pela ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.

"O inventário da década de 70, 80, não teve a preocupação da análise de dados, que pega a recuperação das florestas, controle de biomassa. Isso tem grande importância [...] para conhecer o que o Brasil tem em todos os seus ecossistemas em termos de floresta, no Cerrado, na Caatinga, na Amazônia", disse a ministra.

O projeto foi apresentado pela ministra em 2010 e, segundo ela, estava sendo "calibrado" desde então.  "Agora, estamos dando o arranque para, até 2016, ter todo o pais mapeado. Nenhum país do mundo, com a envergadura do Brasil, tem esse trabalho feito", disse Izabella Teixeira.
O governo informou que o novo levantamento prevê ainda entrevistas com moradores locais e formas de uso das florestas. O objetivo é obter dados de 20 mil pontos em todo país, sendo que 7 mil deles ficam na área da floresta amazônica. A cada cinco anos, há previsão de atualização dos dados.

Em 2013, o foco de levantamento das informações, segundo o diretor-geral do Serviço Florestal Brasíleiro (SFB), Antônio Carlos Hummel, é o chamado Arco do Desmatamento, formado por Rondônia, centro e norte do Mato Grosso e leste do Pará. O SFB, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, coordena o inventário nacional.

"Queremos conhecer a floresta por dentro. Não é só olhar a floresta, mas a qualidade da floresta e o que a população que vive no entorno acha da floresta. O Brasil é um país florestal, principalmente na Amazônia. [...] Vamos iniciar a implementação [do inventário] na Amazônia com foco no Arco do Desmatamento. Utilizamos o critério do arco porque é uma área em evidência", destacou Hummel.

Segundo o Serviço Florestal Brasileiro, cerca de 62% dos 8,5 milhões de quilômetros quadrados do Brasil são florestas. Além da pesquisa de campo, que será feita por universidades e institutos ambientais, haverá análise de imagens feitas via satélite.

Antônio Carlos Hummel explicou que o levantamento anterior, divulgado em 1983, traz dados principalmente de Minas Gerais e do Centro-Sul do país. "Não tínhamos a tecnologia de hoje, mas podemos fazer mais para frente um cruzamento das informações", explicou o diretor do SFB.

Custo total
Dos R$ 150 milhões estimados para a confecção do inventário, há quase R$ 33 milhões do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), além de recursos do próprio ministério e de fundos ambientais estaduais.

"O custo inicial, até 2016, é de R$ 150 milhões para fazer uma coisa que tenho certeza que vai ter um retorno que você multiplica por 10, 15 vezes", disse Izabella Teixeira. A ministra afirmou que a expectativa é de divulgação de dados parciais ainda neste ano.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Geleiras dos Andes derretem a ritmo mais rápido em 300 anos


Segundo pesquisa, o derretimento se deve a um aumento médio de temperatura na região.



As geleiras na região dos Andes sofreram uma redução média de 30% a 50% desde a década de 70 e estão diminuindo ao ritmo mais rápido nos últimos 300 anos, afirma um estudo divulgado na revista especializada "Cryosphere".
Realizada pelo Laboratório de Glaciologia e Geofísica Ambiental de Grenoble, na França, a pesquisa estudou dados de cerca de metade das geleiras da região andina, que fornecem toneladas de água para milhões de pessoas na América do Sul.
Segundo a pesquisa, o derretimento se deve a um aumento médio de temperatura de cerca de 0,7º C entre 1950 e 1994. De acordo com o estudo, o degelo está ocorrendo em toda a região tropical dos Andes, mas tem sido mais acentuado nas pequenas geleiras situadas a baixas altitudes.
Geleiras situadas abaixo de 5.400 metros perderam cerca de 1,35 metros de espessura de gelo por ano desde a década de 70, o dobro do índice das situadas a altitudes mais elevadas.
Redução média tem sido de 30% a 50% desde os anos 70 (Foto: BBC)
Redução média tem sido de 30% a 50% desde os
anos 70 (Foto: BBC)
Escassez de água
''Como a espessura destas geleiras de baixa altitude raramente supera 40 metros, com tamanha perda anual elas provavelmente irão desaparecer por completo nas próximas décadas'', afirma Antoine Rabatel, do instituto francês responsável pelo estudo.

Os pesquisadores disseram ter havido pouca mudança no que diz respeito à quantidade de chuva na região ao longo das últimas décadas e que, portanto, isso não poderia estar por trás na redução das geleiras. Se não ocorrerem mudanças na regularidade das chuvas na região, a região poderá enfrentar escassez de águas no futuro, afirmaram os cientistas.
O vale do Rio Santa, no Peru, poderá ser o mais afetado; centenas de milhares de habitantes se valem das águas glaciais para o uso na agricultura, para o consumo doméstico e para a energia hídrica.
Grandes cidades, como La Paz, na Bolívia, também poderão enfrentar problemas. 'Geleiras respondem por até 15% do abastecimento de água de La Paz ao longo do ano. E na temporada seca, essa proporção sobre para 27%'', afirma Álvaro Soruco, do Instituto de Investigações Geológicas e Ambientais da Bolívia.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) tem apontado para a importância das geleiras de montanhas como sensíveis indicadores da ocorrência de mudanças climáticas.
Em todo o mundo, as geleiras têm recuado desde o início do século 20, com poucas exceções. As geleiras do Himalaia que ainda são relativamente pouco estudadas estariam, segundo indícios, acumulando massa, em vez de estarem sofrendo degelo.
Cientistas afirmam que a geleira de Chacaltaya, na Bolívia, que costumava contar com a mais elevada pista de esqui do mundo, já quase desapareceu.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Nasa mostra que seca de 2005 afetou área da Amazônia por anos


Um estudo da agência espacial americana (Nasa) revela que uma área da floresta amazônica com duas vezes o tamanho da Califórnia (equivalente a mais de 800 mil quilômetros quadrados) continuou sofrendo os efeitos de uma grande seca que começou em 2005. Os resultados foram publicados na revista “PNAS", da Academia Nacional de Ciências dos EUA.

A pesquisa sugere que a floresta tropical amazônica pode estar mostrando os primeiros sinais de degradação em larga escala devido à mudança climática.

Amazônia mostra sinais de degradação devido a mudanças climáticas (Foto: Divulgação/NASA/JPL-Caltech)Oito anos depois, os danos causados pela seca de 2005 ainda são visíveis (Foto: Divulgação/NASA/JPL-Caltech)

A equipe internacional de pesquisadores, liderados pela Nasa, avaliou mais de uma década de dados captados por satélite entre 2000 e 2009 sobre a Amazônia. A análise também incluiu medições da precipitação das chuvas tropicais,  do teor de umidade e da cobertura florestal.

Os resultados revelam que, durante o verão de 2005, mais de 700 mil quilômetros quadrados (70 milhões de hectares) de floresta no sudoeste da Amazônia enfrentaram uma extensa e severa seca.

A “megasseca”, como é chamada pelos pesquisadores, provocou danos generalizados à cobertura florestal, com a morte de galhos e quedas de árvores, especialmente as maiores e mais antigas, que são mais vulneráveis do que às demais por oferecem abrigo ao restante da vegetação.
Embora os níveis de precipitação tenham voltado ao normal nos anos seguintes à seca, os prejuízos continuaram durante a segunda grave seca que começou em 2010, acreditam os cientistas. Esse “golpe duplo”, afirma o artigo, sugere um efeito generalizado das mudanças climáticas nas regiões sul e oeste da Amazônia.

"Esperávamos que a cobertura da floresta se recuperasse depois de um ano com o vigor da nova vegetação, mas o dano parece persistir até a seca subsequente, em 2010", afirmou o coautor do estudo, Yadvinder Malhi, da Universidade de Oxford, no Reino Unido.
Os pesquisadores atribuem a seca de 2005 ao aquecimento das temperaturas da superfície do mar do Atlântico tropical. "O mesmo fenômeno climático que ajudou a formar os furacões Katrina e Rita, ao longo da costa dos EUA, em 2005, provavelmente também causou a grave seca no sudoeste da Amazônia", acredita Sassan Saatchi, do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, em Pasadena, na Califórnia.

De acordo com ele, o estudo indica que as “megassecas” podem ter efeitos duradouros sobre as florestas tropicais. “Nossos resultados sugerem que, se as secas continuam ocorrendo em intervalos entre cinco e 10 anos, [...] elas podem alterar a estrutura e o funcionamento dos ecossistemas da Amazônia".
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Amazônia mostra sinais de degradação devido a mudanças climáticas (Foto: Divulgação/NASA/JPL-Caltech/GSFC)Em vermelho e amarelo, gráfico mostra as áreas mais afetadas pela seca em durante os meses de junho, julho e agosto de 2005. (Foto: Divulgação/NASA/JPL-Caltech/GSFC)

Em 2005, cerca de 30% (1,7 milhões de quilômetros quadrados) da bacia amazônica foi afetada, com mais de 5% da floresta submetida à seca, afirma o estudo. Cinco anos depois, a seca de 2010 afetou quase metade de toda a extensão da Amazônia. Os dados obtidos via satélite demonstram ainda um aumento no número de incêndios florestais e da mortandade de árvores.

Fonte: g1.globo.com/natureza.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Promessa de cura para doenças, 'vacina de sapo' está na mira da PF; Kampô é encontrado facilmente no AC


  • Divulgação/PF
    Anfíbio da espécie "Phyllomedusa bicolor", cuja secreção é usada por índios para dar sorte e curar doenças
    Anfíbio da espécie "Phyllomedusa bicolor", cuja secreção é usada por índios para dar sorte e curar doenças
A chamada "vacina de sapo" usada por povos indígenas da Amazônia está na mira da Polícia Federal. A secreção extraída de um anfíbio local chamado de "kampô" (Phyllomedusa bicolor) tem sido enviada para várias cidades do Brasil e do exterior - ela é vendida como suposta cura para as mais diversas doenças.

Por falta de comprovação científica dos supostos benefícios à saúde, desde 2004, uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proíbe o uso, o comércio, a distribuição e a propaganda do kampô como medicamento fora das aldeias.
De olho no crescimento do comércio e exportação ilegal da secreção do sapo amazônico, a Polícia Federal (PF) desenvolveu uma nova tecnologia que pretende coibir a biopirataria da substância. Segundo informou a PF, por meio de sua assessoria, a caracterização do crime esbarra na dificuldade de identificação imediata do produto. "A secreção é uma gosma amarela, muitas vezes reservada em suportes de madeira, tubos ou lenços, e de difícil análise química por se tratar de material biológico complexo".

A técnica para identificação da "vacina de sapo" utiliza um aparelho chamado Maldi-TOF. De acordo com a PF, por ser seletiva e rápida, atende com eficiência e eficácia a atual demanda. "O tempo gasto entre a preparação da amostra e a análise dos resultados é de aproximadamente 60 minutos". O projeto da Polícia Federal no Acre, planejado e executado pelo perito criminal federal Cezar Silvino Gomes, foi premiado no último Encontro Nacional de Química Forense, promovido pela USP (Universidade de São Paulo), em 2012.

Medicinas da floresta
Oriunda da medicina tradicional indígena amazônica, a "vacina de sapo" é amplamente utilizada e conhecida entre as comunidades da região. Costuma ser aplicada pelos curandeiros da aldeia nos braços (em homens), ou nas pernas (em mulheres), para ajudar na caça e curar ‘panema’, uma espécie de depressão do índio.

As reações mais comuns de quem recebe a substância são mal-estar e náusea. Em seguida, os usuários dizem ter uma sensação de bem-estar e energia. "Usamos para falta de ânimo, para prevenir doenças e afastar o mal e o azar", explica o cacique Ni’i katukina, do Acre, que já esteve em São Paulo difundindo a "vacina".

COMO É A APLICAÇÃO DA 'VACINA'

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  • Para a aplicação da 'vacina de sapo', são feitos, com um pedaço de madeira quente, entre sete e nove orifícios no braço (no caso de homens; nas mulheres, a aplicação é na perna). A secreção do sapo amazônico é, então, inserida embaixo da pele com um canivete. Vômitos, diarreia, náusea e mal-estar são sintomas comuns. O efeito começa cerca de 30 segundos depois da aplicação e dura aproximadamente 20 minutos. Segundo a tradição indígena, o local de aplicação está relacionado às atividades da pessoa. "Os homens precisam de força nos braços para a caça, e as mulheres necessitam de pernas fortes para conseguir caminhar carregando cestos de macaxeira e os filhos", explica o cacique Ni’i katukina
Vale destacar que o uso das chamadas "medicinas da floresta" requer cuidados. Há uma diferença entre os remédios ditos naturais e os fitoterápicos. Estes últimos têm efeito comprovado, autorização da Anvisa e registro no Ministério da Saúde. No caso do kampô, apesar da proibição, seu uso ocorre livremente nos centros urbanos. Em geral, está inserido no circuito esotérico e das terapias alternativas, em alguns casos associados a outras práticas dos índios amazônicos, como a ayahuasca, substância psicoativa usada no culto religioso do santo daime.

Coquetel de substâncias
Em 2008, um homem de 52 anos morreu após uma aplicação do kambô no interior de São Paulo. "Pode ser perigoso", afirma o biólogo e pesquisador Denizar Missawa, da Universidade Guarulhos e do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos (Neip).

Embora seja contrário à proibição, o biólogo alerta que a substância tem uma ação no sistema cardiovascular que merece atenção. "É um coquetel de substâncias bioativas; se isolarmos cada uma delas, vamos encontrar medicamentos que agem em diferentes sistemas fisiológicos". Para ilustrar, ele usa o exemplo de alguém que está com dor de cabeça e toma uma farmácia inteira. "Com certeza, você terá tomado um medicamento para dor de cabeça, mas também tomou outros que servem para outras doenças, o que não é saudável", compara.

O pesquisador lembra, ainda, que a forma como as populações indígenas fazem uso do kampô é bem diferente do que tem sido propagado nas grandes cidades. "As aplicações são envoltas em cuidados, como dietas alimentares e comportamentais", observa Missawa.

Projeto kampô
Entre os catuquinas, um grupo indígena da Amazônia, o uso da "vacina de sapo" pelo homem branco também gera polêmica. Antes da resolução da Anvisa, lideranças contrárias à disseminação indiscriminada do kambô já haviam encaminhado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) uma solicitação de registro de seus conhecimentos tradicionais e uma denúncia de biopirataria. O pedido mobilizou governo e pesquisadores e gerou o Projeto Kampô, que desencadeou um processo de regulamentação do acesso ao patrimônio genético.

Atualmente, se alguma substância orgânica de interesse farmacológico associada a conhecimentos tradicionais for descoberta, deve haver divisão de lucros da patente entre laboratórios e comunidades envolvidas. "O acesso ficou extremamente restrito e burocrático; ficou proibido o transporte sem as devidas alterações", diz Missawa.

O biólogo conta que, em 2003, esteve à frente de uma pesquisa pioneira junto aos índios caxinauás – que também fazem uso do kampô. O projeto, entretanto, teve que ser interrompido. "Em 2004, viramos criminosos por causa da proibição do porte de material genético", lamenta. Ele conta que a equipe teve de terminar o trabalho quase de forma ilegal, embora o foco fosse saber como a vacina age no organismo, e não o patenteamento. "Acredito que foi o primeiro estudo de caraterização fisiológica da secreção, mas até trabalhos de natureza informativa foram proibidos e não pude publicá-lo em nenhuma revista".

Tiro no pé
Para o biólogo Missawa, em vez de restringir o acesso ao kampô, o Brasil deve investir em pesquisa, afinal não é a toa que mais de duas dezenas de pedidos de patente da substância já foram feitos por laboratórios estrangeiros. "A substância presente na secreção do sapo que despertou interesse são as dermaseptinas, peptídeos com capacidade antibiótica intensa, eficaz contra inúmeros microorganismos, inclusive algumas formas resistentes de bactérias".

HOMEM MORRE APÓS 'VACINA'

Em 2008, o comerciante Ademir Tavares, de 52 anos, morreu após ter recebido a "vacina de sapo" em Pindamonhangaba, no interior de SP, aplicada por um empresário. Tavares demorou muito para voltar do banheiro, o que chamou a atenção dos presentes. Quando foram até o banheiro, encontraram-no caído, de olhos abertos e sem respirar. Foi socorrido, mas chegou morto ao hospital
Nesse sentido, ele acredita que a proibição do kampô pode ser um tiro no pé, pois mira na biopirataria, mas acerta na bioprospecção. ou seja, na exploração legal de espécies de uma determinada região. "Ficou extremamente difícil qualquer pesquisa acadêmica, mesmo sem o intuito de bioprospecção".

O biólogo, em parceria com os índios Huni Kui (Caxinauá), tentou durante três anos autorização para outro estudo das características dos efeitos imunológicos da secreção do sapo da Amazônia, através do Laboratório de Imunoquímica do Instituto Butantan. Não obteve sucesso. "A burocracia é imensa e demorada, trazendo o desinteresse por parte das instituições em pesquisar o kambô, principalmente por ter o conhecimento tradicional associado", conta.

"Deveríamos pesquisar esta substância para transformá-la em medicamentos ou alertar possíveis riscos a saúde. A proibição dificulta muito qualquer pesquisa farmacológica, além de trazer transtorno para o índio que estiver levando em sua bolsa a sua medicina tradicional", acrescenta. 
Biopirataria
Um fato reforça o argumento do biólogo quanto à ineficiência da proibição do kambô com o objetivo de combater a biopirataria. Não é difícil retirar legalmente material genético amazônico na Guiana Francesa. Quem preferir pode comprar a secreção do sapo em sites peruanos. Muito mais simples do que burlar a lei brasileira severa e burocrática. "Não acredito que exista biopirataria no Brasil, o que tem é o tráfico", afirma Missawa.

De fato, centros alternativos nas grandes metrópoles promovem o tratamento com a "vacina de sapo" cobrando, em média, 100 reais por aplicação. "Uma paleta possibilita umas 100 aplicações, e considerando que para o índio ou ribeirinho ela é retirada gratuitamente da natureza e subtraindo-se a passagem de avião, ainda sobra um lucro considerável, que às vezes é dividido entre o aplicador e a instituição que promoveu o tratamento", detalha o pesquisador.

Também é comum no interior do Acre, em Cruzeiro do Sul, Tarauacá e ao longo da BR 364, encontrar pessoas vendendo uma paleta com a secreção do sapo por um preço baixo. O "terapeuta alternativo" compra, transporta para a metrópole e obtém o lucro total nas aplicações.

Não é de se espantar, portanto, que a "vacina de sapo" já tenha chegado à Europa e aos EUA, embora ainda de forma discreta. "Está relacionada ao circuito da ayahuasca e das terapias alternativas, mas são basicamente iniciativas individuais, não institucionalizadas", diz a antropóloga Beatriz Labate, professora visitante do Programa de Política de Drogas do Centro de Pesquisa e Ensino Econômico - Cide, em Aguascalientes, no México.

Fonte: Portal Uol