A produção de alimentos responde por quase um terço das emissões
humanas de gases do efeito estufa, o dobro da estimativa da ONU
(Organização das Nações Unidas), segundo estudo publicado nesta
quarta-feira (31).
O relatório, intitulado Mudança Climática e Sistemas Alimentares,
estima que a produção de alimentos gere de 19% a 29% de todas as
emissões humanas. A previsão da ONU era de até 14%. A diferença ocorre
porque a ONU avaliou apenas as emissões decorrentes da agricultura, ao
passo que a entidade de pesquisas agrícolas CGIAR levou em conta também o
desmatamento, a produção de fertilizantes e o transporte dos produtos
agrícolas.
"Do ponto de vista alimentar, [a abordagem da ONU] não faz sentido",
disse Bruce Campbell, diretor do programa de pesquisas da CGIAR sobre
mudança climática, agricultura e segurança alimentar.
Para Campbell, muitos países poderiam fazer uma economia significativa
se reduzissem suas emissões. "Há boas razões econômicas para melhorar a
eficiência na agricultura, não só para reduzir as emissões de gases do
efeito estufa."
A China, por exemplo, poderia diminuir fortemente suas emissões se
melhorasse a eficiência na fabricação de fertilizantes. No Reino Unido,
seria mais vantajoso consumir carne de cordeiro importada de fazendas
mais eficientes na Nova Zelândia, em vez de criar seus próprios animais.
Outra recomendação do relatório é para que o mundo altere sua dieta,
dando preferência ao vegetarianismo. O cultivo de alimentos para vacas,
porcos e ovelhas ocupa muito mais terras e emite mais gases do efeito
estufa do que a manutenção de lavouras para consumo humano.
Produção agrícola
Outro relatório da entidade indica que a mudança climática deve reduzir
nas próximas décadas a produtividade de três produtos agrícolas que
mais fornecem calorias à humanidade nos países em
desenvolvimento: milho, trigo e arroz .
Isso obrigaria alguns agricultores a optarem por cultivos mais
tolerantes a calor, inundações e secas, segundo o segundo relatório,
intitulado Recalibrando a Produção Alimentar no Mundo em Desenvolvimento. Cultivos
mais resistentes, como inhame, cevada, feijão-fradinho, milheto,
lentilha, mandioca e banana, podem preencher o espaço deixado por
produtos mais sensíveis.
"Os sistemas agrícolas mundiais enfrentam uma árdua luta para alimentar
projetados 9 a 10 bilhões de pessoas em 2050. A mudança climática
introduz um obstáculo significativo pra essa luta", disse o texto. A
população mundial atualmente está um pouco acima dos 7 bilhões.
O estudo diz também que o aquecimento global, atribuído por cientistas
da ONU à atividades humanas como a queima de combustíveis fósseis,
implica riscos para a produção alimentar além das lavouras, por gerar
problemas também no armazenamento e transporte.
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