terça-feira, 17 de março de 2009

Madeireiros expulsam indios isolados do Peru para a fronteira do Acre


Empurrados pela exploração ilegal de madeira na Amazônia peruana, índios que nunca tiveram contato com o mundo externo estão fugindo para o Brasil. A denúncia é feita em relatório lançado pela ONG Survival International, que acompanha a situação dos chamados “índios isolados” no mundo.
O problema acontece fronteira do estado do Acre, no extremo oeste brasileiro. Para confirmar a denúncia feita pela Survival, entrevistei o pesquisador da Funai, José Carlos Meirelles, que há 20 anos vive na região estudando tribos isoladas. Ele confirma as informações divulgadas pela ONG inglesa.

“A evidência mais forte de que esses índios foram expulsos de suas terras é que eles estão roubando mudas de banana e de mandioca da gente. Isso significa que eles saíram correndo, e não têm nem banana para plantar, porque estão com medo de ir buscar as mudas. Eles estão sem o que comer”, alerta o indigenista.

A exploração madeireira ocorre principalmente para a retirada do mogno. A madeira, uma das mais valiosas da Amazônia, é proibida de ser cortada no Brasil porque a planta corre risco de extinção. Para Meirelles, a única solução para o caso é o fim do consumo dessa madeira nobre.

“Enquanto houver gente disposta a pagar uma fortuna pela madeira, vai haver gente tirando mogno de onde for. O mundo precisa saber que cada americano que se enterra em um caixão de mogno, junto vai uns três índios isolados”, avisa.

Madeira boiando
Como a região é tomada por florestas, o sertanista precisa trabalhar com evidências para descobrir o que ocorre dentro da mata. Recentemente, objetos boiando no rio mostraram que a atividade madeireira ocorre a todo vapor na região: foram encontradas várias pranchas de mogno, além de galões de óleo.

As marcas da chegada dos índios isolados peruanos também são muitas. Meirelles coleciona flechas utilizadas por essas tribos, e já foi alvo de algumas delas. “Eles não sabem distinguir a gente dos madeireiros”, conta.

Risco de conflitos
Do lado brasileiro, há pelo menos três tribos que vivem sem contato. A região é protegida por reservas, mas Meirelles teme que ocorra um conflito entre os próprios indígenas isolados, já que os peruanos supostamente não reconheceriam as tribos brasileiras.

Em seu relatório, a Survival International pede ao governo peruano que expulse as madeireiras e não permita que ninguém entre na área para explorar recursos naturais, pois os índios correm risco de extinção, e podem morrer de doenças comuns, como a gripe, se entrarem em contato com brancos.

Segundo a ONG, um desses desastrosos encontros ocorreu em meados dos anos 1990, quando a tribo peruana Murunahua foi invadida por cortadores de mogno, e as doenças trazidas mataram pelo menos metade dos membros da comunidade.

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