quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Vida Saudável

Como lidar com a depressão do final de ano

por Jocelem Salgado

O Natal e as festas de fim de ano estão chegando e para muitos, está chegando também a fase das depressões. Muitas vezes esse sentimento de desamparo e desânimo é provocado por datas que nos trazem lembranças tristes. Ou por perdas, como a de entes queridos, separações, desemprego, doenças. Todos esses fatos provocam o que podemos chamar de depressão natural. É normal e necessário que alguém se deprima quando sofre uma perda.

O que não pode ser aceita como natural é a depressão patológica, aquela que persiste por anos e transforma o dia-a-dia numa relação de mau humor, tristeza, mágoa e falta de perspectiva. Esse tipo de depressão é classificado como doença, precisa de acompanhamento médico e tem hoje excelentes tratamentos. Neste artigo, quero chamar a atenção para a importância da depressão no seus vários níveis, e lembrar que a pessoa deprimida precisa ser compreendida e cuidada.

Depressão nas festas de fim de ano
De uma forma ou de outra, com mais dinheiro ou menos dinheiro, está começando a estação do ano onde costumamos fazer balanços, projetos e festas.

O que pode parecer a época mais feliz do ano, para muita gente é bem o contrário. Natal e encontros de família, para essas pessoas, podem se transformar nos momentos mais tristes e difíceis de suportar. Na maioria das vezes, são pessoas deprimidas ou que estão passando por uma crise de depressão.

Para algumas, a causa está nas lembranças desse período, na falta de alguém, por exemplo, e a tristeza costuma ir embora assim que as festas também se vão. Para outras, o Natal só vem agravar uma sensação de desânimo e falta de autoestima que torna todas as coisas difíceis e sem graça alguma, o ano inteiro. Essas pessoas precisam de compreensão e ajuda médica, pois estão sofrendo da doença depressão.

O Natal daqui a alguns dias, é a época que mais afeta os depressivos, embora a depressão seja um mal que ataca em qualquer estação do ano. A depressão virou também uma espécie de mal da nossa época, certamente porque vem sendo estudada mais do que nunca e, com certeza, porque a indústria farmacêutica investiu muito nessa área, com resultados animadores. A Organização Mundial da Saúde estima que 15% da população mundial apresente algum quadro de depressão ao longo da vida.

O luto é um sentimento necessário
O primeiro passo é tentar distinguir entre a depressão natural, aquela provocada por um sentimento de tristeza por alguma perda e a depressão patológica, que se agrava e permanece sem uma razão que justifique, e que precisa ser tratada por especialistas.

A depressão natural ou normal pode ser provocada por fatos graves como a perda do emprego, a morte de algum ente querido, o fim de um casamento, uma doença séria, o afastamento de um filho. São perdas que precisam de um tempo para serem absorvidas e superadas. Tentar ignorá-las será sempre pior.

Especialistas dizem que a perda de alguém só é superada depois de seis meses a um ano de luto. Tentar fazer de conta que esse fato não afeta a vida é lutar contra um sentimento que mais tarde voltará em forma de depressão muito mais grave.
Para essas depressões que têm causa conhecida, e para aquelas pessoas que se sentem deprimidas de tempos em tempos, há uma série de sugestões que podem ajudar a reduzir seus efeitos sem o uso de medicamento.


Dicas para diminuir a tristeza
Uma das mais eficazes é o exercício físico. Começar uma atividade qualquer, seja caminhada, ciclismo ou natação, dá ao corpo e à mente uma disposição nova capaz de animar o resto do dia. Você se sentirá mais forte, mais auto-confiante, se animará a fazer planos, e isso com certeza diminuirá sua tristeza e a sensação de que não é capaz de nada. O exercício físico atua em neurotransmissores que aumentam a disposição física e mental.

Muitas vezes a depressão está associada a sentimentos de solidão e isolamento, à falta de um contato físico. Por isso, especialistas em práticas alternativas sugerem tratamentos com massagens de todos os tipos, especialmente as relaxantes. Sentir o corpo, ajuda a ganhar nova disposição e a sentir-se vivo, com vontade de viver.

Um dos recursos comprovadamente eficaz é a buscar por auxílio espiritual. Muitas pessoas que passaram por crises teríveis de depressão encontraram na igreja uma nova razão de viver. "Cheguei a pensar no suicídio, após a perda do meu marido, mas encontrei auxílio em Deus e nas orações", disse a pedagoga Lúcia Bradão, que hoje congrega numa igreja evangélica.

Há outras dicas conhecidas, que se fundamentam em exercitar o pensamento positivo. Se você diz a você mesmo que vai sair dessa fase, que você não é uma vítima, que é capaz e vai conseguir, certamente terá mais chance do que aquele que pensa o contrário.

Outro aspecto é a solidão e o fechamento em nós mesmos, tendência que muitas vezes acompanha a depressão. Sem a referência dos outros, sempre vamos achar que estamos sós e que nossa situação é a pior de todas. É por isso que os grupos de auto-ajuda como esses que reúnem alcoólatras e familiares de vítimas da violência, por exemplo, conseguem resultados que parecem milagres. Ao ouvir pessoas que estão vivendo uma situação semelhante à nossa, é natural que nos sintamos encorajados.

Nem é preciso participar de grupos de auto-ajuda, basta procurar estar mais tempo com as pessoas de quem gostamos e falar com elas sobre o que estamos sentindo e vivendo. Conversar, colocar para fora o que está dentro de nós, vai com certeza trazer alívio. Isso vale para mágoas, ressentimentos, angústias, a sensação de que estamos sendo enganados ou injustiçados.

Quando depressão é doença
Quando a depressão não é mais a consequência direta de fatos que estão nos afetando, ela precisará ser cuidada por especialistas, muitas vezes com psicoterapia e medicamento. Esses casos são identificados por sérias alterações no dia-a-dia e que se repetem por semanas. São irregularidades no sono, às vezes com insônia, às vezes com sono demais, e que sempre resultam numa grande sensação de cansaço ao acordar.

São sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada, que podem se juntar a ideias de suicídio e de morte. Perda de interesse ou falta de prazer em quase todas as atividades, incluindo festas, passeios e atividade sexual, na maior parte do tempo e quase todos os dias. A depressão também se manifesta por alterações no apetite e consequentemente no peso, com ganhos e perdas. E interfere no sistema imunológico: uma pessoa deprimida, tende a ter suas doenças agravadas.

As depressões patológicas podem ter causas genéticas e biológicas, entre outras. Mas há também razões sociais que explicariam, por exemplo, a razão pela qual a depressão é duas vezes mais frequente em mulheres.

A identificação correta da depressão e o adequado tratamento dependerão do histórico de cada um, que o especialista fará ouvindo-o com a atenção. Hoje, medicamentos de última geração, vendidos como genéricos, por isso a preços mais acessíveis, significam uma grande ajuda para milhares de pessoas.

A depressão precisa ser levada a sério e tratada em todas as idades. Uma criança pode estar deprimida e os adultos à sua volta podem achar que está apenas querendo chamar a atenção. Os jovens, mesmo estudantes universitários, são vítimas da doença. Não é por acaso que alunos de medicina são os que mais tentam suicídio entre jovens da sua idade.

Os idosos são os que precisam de maior atenção. Com a perda de familiares, da saúde, das atividades que costumava exercer, do salário, o idoso reúne muitos motivos para cair em depressão. Não podemos, de forma alguma, enxergar esse quadro como natural. Medicado e melhor cuidado, esse nosso pai, tio, amigo ou avô poderá viver o resto de sua vida muito mais feliz.

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