sábado, 7 de agosto de 2010

Rio Branco, 7 de Agosto de 2010

Moradores da Região Norte sofrem quatro vezes mais ataques de cobras

Surucucu, maior serpente venenosa do Brasil. (Foto: Daniel Sifuentes Min. Saúde/Divulgação)



Moradores do Norte do país têm cerca de 3,8 vezes mais chances de sofrer ataques de cobras, comparando a média de casos registrados na região com o índice nacional para o ano de 2009. Dividindo o número total de acidentes pela população, estima-se que 1 em cada 10 mil pessoas sofreram acidentes com cobras no Brasil no ano passado. Nos estados do Norte, a incidência de casos é de 4 para cada 10 mil habitantes.

Os números que serviram de base para o cálculo fazem parte de uma análise de dados preliminares feita pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde e divulgada na última semana. Segundo as estimativas, o número de casos de acidentes com animais peçonhentos cresceu 33% no país entre 2003 e 2009.

Em 2003, o sistema computou 68.219 notificações, contra 90.558 em 2009. Os peçonhentos incluem serpentes, lagartos, aranhas e escorpiões, bichos capazes de injetar veneno em suas vítimas por meio de dentes ou ferrões.

O crescimento no número de acidentes com esses animais foi menor no Norte do país, de cerca de 15%, segundo a mesma análise e considerando o período de 2003 a 2009. O número absoluto de casos envolvendo serpentes, no entanto, se manteve elevado nos estados amazônicos em todos os anos.




Desde 2005, por exemplo, a região Norte lidera o ranking de acidentes com serpentes no país. Só em 2009 foram notificados 6977 casos na região, contra 2130 observados em estados do Sul, área com menos ataques de cobra para o período no país.
Os estados da região Norte englobam a maior parte da área da Amazônia Legal, que também considera o Mato Grosso e parte do Maranhão.
Segundo o biólogo Giuseppe Puorto, diretor do museu biológico do Instituto Butantan em São Paulo e um dos coordenadores do projeto da entidade para a Amazônia, mais de 90% dos acidentes com cobras em cidades do bioma envolvem a jararaca.

"É o bicho mais abundante e uma das espécies (Bothrops atrox) tem suportado muito bem as mudanças ambientais. Quanto mais áreas naturais tiverem na floresta, menos acidentes ocorrerão", diz ele.

O veneno da jararaca pode matar, de acordo com Puorto, mas é mais comum que ele deixe sequelas. A picada causa muita dor e inchaço, sendo que a ferida em um membro pode resultar em sua amputação.

"Estive há três anos no Alto Rio Negro para cuidar de um indígena que tinha sido mordido por uma cobra e, por conta do ferimento, ficou com o osso exposto por mais de um ano. Se os índios têm entornos alterados por conta da instalação de fazendas, por exemplo, os animais começam a ser empurrados, o que pode aumentar a chance de acidentes", diz ele.
Sequelas

O soro para neutralizar o veneno da jararaca existe desde o início do século passado, segundo o biólogo. "O problema é que o veneno é absorvido aos poucos e o soro só tem efeito no veneno circulante que ainda não agiu. Por experiência, sabemos que se a vítima toma o soro em até 10 horas depois do acidente, as chances de ficarem sequelas são bem menores", conta.

O Instituto Butantan tem um projeto na Amazônia para entender o veneno dos animais peçonhentos na região de Santarém, no Pará, que tem tanto o bioma amazônico como o Cerrado, segundo Puorto. Dentro de um ano e meio, a entidade pretende instalar uma base fixa nos arredores da cidade.
Fonte: globoamazonia.com

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