Davi Friale, pesquisador meteorológico, há mais de 25 anos estudando o clima da Amazônia Ocidental.
Jornais do mundo inteiro têm noticiado, frequentemente, frio intenso, chuvas fortes e prolongadas, secas severas e outros fenômenos meteorológicos adversos castigando regiões de todos os continentes.
O que todos esses fenômenos têm em comum é a época em que já ocorreram: entre 50 e 70 anos atrás.
Trata-se de um ciclo climático natural que ocorre de tempos em tempos e que depende de vários fatores, entre eles, o principal, que é a atividade solar.
O Sol tem vários ciclos de atividades com altas, médias ou baixas emissões de radiação. Essas radiações afetam diretamente o clima da Terra e, por isso, a cada, aproximadamente, 60 anos, ocorrem eventos extremos em toda a atmosfera terrestre como conseqüência do maior ou menor aquecimento dos oceanos.
Inundações, frios intensos, secas severas e ventos fortíssimos são comuns, atualmente.
Só para citar alguns exemplos recentes:
- Manaus, Buenos Aires, Moçambique, Austrália e Jerusalém tiveram inundações só presenciadas há, aproximadamente 60 anos;
- Brasileia, no Acre, foi, literalmente, coberta pelas águas do rio que banha a cidade, tal a intensidade das chuvas;
- Rio Branco, também, no Acre, no início deste ano de 2013, teve o recorde histórico de acúmulo de chuvas com 132mm, em, menos de 12 horas;
- serra do Mar, em São Paulo, Angra dos Reis e Petrópolis, no Rio de Janeiro, sofreram com chuvas semelhantes as da década de 1950;
- frios intensos iguais aos de 60 anos atrás em Jerusalém, na Rússia, nos Estados Unidos, no México, na Índia e na Europa, inclusive, em plena primavera;
- a seca do Nordeste brasileiro já se compara a de 55 anos atrás.
No Brasil, na primeira quinzena de abril deste ano, uma intensa massa de ar polar fez as temperaturas despencarem para valores negativos, logo no início do outono, fenômeno que não ocorria, neste mês, há mais de meio século.
No Acre, uma forte massa de ar seco, impulsionada por altas pressões atmosféricas localizadas no centro-norte da Argentina, deixou o tempo seco e ensolarado, ainda na primeira quinzena de abril deste ano.
Devido ao resfriamento global que começa a ganhar força, poderosas massas de ar seco começam a se formar e se instalar em vários pontos do planeta como conseqüência das intensas chuvas que caíram nos últimos meses, fazendo baixar a umidade do ar, em várias regiões.
Entre essas grandes massas de ar seco está a massa tropical continental, localizada sobre o chaco paraguaio-argentino e que é alimentada por massas de ar seco de origem polar austral. Essa massa espalha-se pelo corredor de terras baixas localizado no sentido norte-sul da América do Sul, no qual o Acre está inserido.
As altíssimas pressões atmosféricas no continente Antártico, cujo ar é extremamente seco, deslocam-se para o continente sul-americano provocando muito vento do sul. Na Argentina, essas massas de ar ganham reforço e se movimentam em direção à Amazônia Ocidental, atingindo, principalmente, o Acre, que fica na entrada principal dos ventos de sudeste.
Na alta atmosfera, observam-se, atualmente, poderosas correntes de ar extremamente seco – além do normal - que irão alimentar os centros de alta pressão na América do Sul.
Assim, se não houver nenhuma alteração na atual tendência meteorológica, o Acre e toda a Amazônia Ocidental poderão, já neste ano de 2013, enfrentar a maior seca dos últimos 50 anos.
A grande seca de 2005, que assolou nossa região, foi prevista e amplamente por nós anunciada, no mês de abril, teve as mesmas características atmosféricas iniciais deste ano de 2013, só que com menor intensidade.
Desde o dia 14 de abril, o Acre foi invadido por uma intensa massa de ar seco, cujos ventos sopram, moderadamente, de sudeste. Em Rio Branco e em todo o leste do estado, as chuvas cessaram completamente e, a cada dia, a umidade do ar tem baixado mais, fazendo cair a temperatura, durante a noite.
Na primeira quinzena do próximo mês de maio, uma forte frente fria chegará no Acre e, logo em seguida, outra intensa massa de ar seco deixará os dias, novamente, ensolarados e secos por um bom tempo.
Portanto, é bom ficar atento, pois todas as condições meteorológicas atuais indicam que uma seca severa poderá atingir o Acre e as regiões próximas.
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