O aumento da demanda externa por carne bovina e soja vai induzir o
Brasil a desmatar mais a floresta amazônica, revertendo o sucesso
recente na diminuição das perdas florestais, mostrou um estudo feito por
especialistas do Centro de Pesquisas Internacionais sobre Clima e Meio
Ambiente, divulgado nesta semana na revista "Environmental Research
Letters".
Cerca de 30% do desmatamento no Brasil na primeira década deste século
ocorreram porque agricultores e pecuaristas procuraram terras para
expandir a produção de carne e soja para exportação, contra cerca de 20%
na década de 1990, disse o relatório. "O comércio está emergindo como o
principal motor do desmatamento no Brasil", diz o estudo.
"Isso pode contribuir indiretamente para a perda das florestas que os
países industrializados estão tentando proteger por meio de acordos
internacionais", aponta o documento.
As exportações de carne bovina e soja responderam por 2,7 bilhões de
toneladas de emissões de carbono causadas pelo desmatamento no Brasil na
década de 2010, disse o relatório. Isso excede as emissões de gases de
efeito estufa de uma nação como o Egito, no mesmo período.
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgados na
última semana mostraram um aumento de 26,6% no desmatamento entre
agosto de 2012 e fevereiro deste ano, para 1.695 km², em relação ao
mesmo período anterior, segundo o ministério. As informações incluem a
degradação (desmatamento parcial) e o corte raso (desmatamento total) da
floresta. A chamada Amazônia Legal cobre 5,2 milhões de km².
A crescente demanda externa e a ânsia do governo brasileiro por
crescimento econômico significam que uma queda contínua na taxa de
desmatamento era improvável sem novas medidas para proteger as
florestas, disse o relatório.
Imagem aérea mostra desmatamento na Amazônia (Foto: Divulgação/Toby Gardner/Science)
Emissões globaisMundialmente, o desmatamento representa até um quinto das emissões de gases do efeito estufa de origem humana, de acordo com estimativas da Organização das Nações Unidas. As árvores absorvem dióxido de carbono enquanto crescem e o liberam quando são queimadas ou apodrecem.
Segundo as regras de mudança climática da ONU, as emissões de gases do
efeito estufa são consideradas aquelas dentro das fronteiras nacionais.
Sugestões de transferir a responsabilidade aos consumidores, neste caso
os compradores externos da carne bovina brasileira, são muitas vezes
desprezadas como sendo muito complicadas.
"Tem sido um pesadelo no setor florestal", disse o pesquisador de
florestas do Instituto Internacional para o Meio Ambiente e
Desenvolvimento, Duncan Macqueen, em Edimburgo. "Os consumidores se
perguntam 'por que devemos sofrer o custo da reforma do sistema?'",
disse.
Alguns projetos procuram certificar a produção florestal como vindo de
uma fonte que não envolve extração ilegal de madeira. Mas têm
inconvenientes, já que os custos das auditorias podem ser muito elevados
para os pequenos produtores, afirmou.
O estudo do centro sugeriu uma melhor rotulagem ou informações sobre
importações para ajudar os consumidores. Além disso, a pesquisa não
tentou comparar o impacto ambiental da produção de carne bovina ou de
soja no Brasil com a de outras nações para ver onde a produção foi menos
prejudicial. "Análises similares ainda têm de ser feitas", afirmou o
autor Jonas Karstensen.
Fonte:Da Reuters
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